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Entrevista com o Padre Manuel Galvão

“Tenho sempre uma impressão muito positiva
 dos nossos imigrantes!” – afirmou o sacerdote

João G. Silva
Adiaspora.com


Reuniu-se no passado sábado dia 4 de Agosto, no salão paroquial da igreja de Nossa Senhora de Fátima em Brampton, um grupo de amigos do conselho de Ribeira Grande num jantar de angariação de fundos para a ajuda da construção do novo salão paroquial da Matriz daquela cidade nortenha, na ilha de S. Miguel.

Foram três os impulsinadores desta festa de angariação de fundos para este projecto: Manuel Tavares, José Correia e Luís Pacheco (Catitas Catering), que serviu o jantar.  A realização dum sonho antigo do salão paroquial da Matriz da Ribeira Grande é uma realidade pois já se iniciaram as obras, no passado dia 4 de Junho deste ano, aquando dos 500 anos do aniversário da igreja Matriz.
Esteve presente o padre daquela paróquia que, em gozo de curtas férias de visita á família radicada aqui no Canadá, apresentou o projecto que vai abranger 600 crianças, com salas de catequese, salão de festas e até quartos de estadia para visitantes.
Foi pena que comparecessem à festa somente uma centena e meia de pessoas; mas devido ao fim de semana longo e com muita gente de férias foi o que se pode arranjar. Foi pouca gente mas a vontade foi boa a favor deste delicado projecto que vai custar uma fortuna.
Um livro foi trazido e apresentado dos 500 anos da história da Ribeira Grande, logo arrematado, como outras iguarias regionais oferecidas para o efeito.
Para mais informações falámos com o Pároco da freguesia da Matriz da Ribeira Grande, que nos forneceu os dados deste grande projecto e os seu custos. Apesar da ajuda do Governo Regional, Câmara Municipal e empresas daquele concelho a norte da ilha de São Miguel, nunca é suficiente o montante fornecido em dinheiro para o custo de tão elevada obra, que afinal vai servir a população em geral, a beneficiar dos serviços pastorais daquela igreja.

JGS - Quantos anos de serviço na Diocese de Angra?
Padre Manuel Galvão - Já sou padre á 16 anos, natural de Santa Bárbara da Ribeira Grande, por isso já estou quase a jogar em casa. Depois da minha ordenação de padre fui colocado em São Jorge, nas freguesias do Topo e Santo Antão, onde estive durante quatro anos. Depois segio para S. Miguel, para a paróquia de Capelas, onde fiquei também como ouvidor da Vila e, durante este tempo, também acomulei um ano e cinco meses na paróquia de Remédios da Bretanha após o falecimento do padre António Nunes. No ano 2000 o bispo, D. António de Sousa Braga, mandou-se para a Matriz da Ribeira Grande onde estou já a trabalhar à sete anos, agora como pároco da Matriz, moderador das cinco paróquias da cidade da Ribeira Grande, ouvidor e capelão do centro de saúde da cidade. Muita responsabilidade para uma pessoa só...

JGS - Como nasceu o projecto do novo salão Paroquial ?

Pe. M.G. - Este projecto já vem há muito de trás. Já existia a casa do Passal, como era assim conhecida. O Pe. Manuel de Sousa também fez umas pequenas obras e transformou em salão paroquial da Ribeira Grande, continuando a chamar-se o passal da R. Grande, onde viveu o nome celebre de Gaspar Furtuoso. Havia, depois disso, a intenção de aumentar  o salão paroquial, fazer a sala grande também maior propriamente que o salão, e fazer mais salas de catequese, já depois do Pe. Manuel de Sousa deixar de ser pároco da Matriz da R. Grande. Essa intenção que existia foi depois totalmente afastada de maneira que, praticamente até agora, não foi entendida e o salão passal foi demolido. Com esta demolição começou a estudar-se um projecto para construir um novo salão paroquial uma vez que a catequese funciona em todas as salas  que existem na igreja e algumas não têm quase condições nenhumas para um funcionamento a nível pedagógico, podemos assim dizer. Antes de eu chegar já havia o estudo do projecto dum salão paroquial, em colaboração com o governo, que se chamava, ''Centro Social Paroquial''. Depois, com este estudo-projecto fomos trabalhando com os movimentos da paróquia, acima de tudo com a “comissão fabriqueira”, ou comissão admistrativa da mesma paróquia, com o centro pastoral - que tem sempre uma palavra definitiva neste sentido. Nós pretendemos escutar também as pessoas e, em resultado disso, decidimos fazer um salão paroquial mas sem ter protocolos com o centro social paroquial. Portanto, o salão paroquial só para uso da paróquia e uso doutros serviços que não seja da paróquia mas estrictamente para trabalhos a nível religioso. Deste estudo, então, nós pensamos reduzir o tamanho do salão, ficar com um projecto mais pequeno, e este projecto mais pequeno contempla cerca de quase 20 salas de catequese, uma capela e várias salas de arrumações; contempla também um grande salão, para cerca de duzentas e vinte pessoas. Pretendemos no futuro arrendar para casamentos para pôr a render e depois ajudar a conservar o edifício. Isto compreende sanitários em condições para aquilo que hoje é exigido para deficientes, tudo o que as autoridades exigem nos dias de hoje. E este mesmo salão, que dá para além da catequese,  abre-se para reuniões da paróquia como também outros trabalhos a nível da cidade e até a nível de S. Miguel.

JGS - Este salão onde vai ser construido?

Pe. MG - Este salão já está a ser construído no mesmo lugar do antigo passal, a mesma casa onde viveu o célebre histioriador Gaspar Furtuoso, como já indiquei, no mesmo espaço, para se dar continuidade histórica ao que já existia anteriormente.

JGS - Outros contactos no Canadá ou EUA?

Pe. MG - Já tive alguns contactos para Montreal e eles já tentaram fazer da festa de N.S. da Estrela, em Fevereiro, angariação de alguns fundos. Até agora ainda não me voltaram a dizer mais nada, se tinham colectado ou não alguns fundos; mas conto que seja no Verão, na altura onde habitualmente vão os organizadores destas festas de N.S. da Estrela à terra natal e aproveitem para nesta altura já levarem o que se recolheu pessoalmente. Já tivemos contacto com pessoas dos Estado Unidos, especialmente de Fall River e arredores, que estão a tentar fazerem um encontro de imigrantes ribeiragradenses para agariar fundos para o salão.
Este agora em Brampton foi feito em cima da hora porque foi planeado na altura das festas de S. Pedro na Ribeira Seca. Quando souberam que tinha previsto vir aqui ao Canadá para visitar e estar com a minha família, e tirar uns dias de férias. Naturalmente o tempo foi muito breve, também não podia mudar passagens, como também já tenho o serviço organizado depois do meu regresso aos Açores, e praticamente até ao fim de Setembro não posso saír da ilha de São Miguel. Penso que em pouco tempo ainda conseguiram reunir um razoável grupo de pessoas uma vez que isto é um fim-de-semana prolongado por causa do feriado de segunda-feira aqui de vocês no Canadá. Dadas as circunstâncias não foi fácil ter muito mais gente. Também se deu o Senhor da Pedra em Toronto para além de outras celebrações, como também se encontra muita gente de férias nesta altura do ano...

JGS - Quanto vai custar a obra do salão?
Pe. MG - Esta obra está orçada em 800 mil euros, igual a 160 mil contos na nossa moeda antiga. Digo mesmo isto na igreja Matriz porque as pessoas mais idosas assim compreendem melhor o custo do valor da obra, até eu próprio compreendo melhor quando digo em escudos. Portanto, esto é o orçamento. Sabemos que depois há sempre as chamadas “derrapagens”, que não são derrapagens no sentido de tirar dinheiro para outras coisas mas porque os preços vão subindo e há sempre este desnivel nas contas. Nisto está orçado tudo o que é material e a gente aí tem que lembrar que blocos, britas,cimento areias e outros materiais já há empresas que estão a ofertá-los. Por enquanto, queremos fazer esta obra com os pés bem assentes na terra, não queremos levantar dinheiro do Banco - e para tal é preciso autorização do senhor Bispo - e não é fácil hoje estar a cobrir uma conta bancária que a gente tenha que levantar dinheiro. Nesse sentido fizemos o orçamento com um empreiteiro considerado baixo por ser uma obra da igreja esta primeira fase de pôr a casa em pé, com telhado. Esta fase esta orçada em duzentos e poucos mil euros, quarenta e um mil contos, mais ou menos. Depois vamos fazer o orçamento para a segunda fase da obra, que é dos revestimentos, chão, janelas, portas, acabamentos; trabalho que geralmente é o mais caro e dificil.

JGS - Esta obra foi lançada nos 500 anos da Ribeira Grande?

PE. MG - Exactamente, a gente já vem neste trabalho há muito tempo, quer dizer andamos com este processo do salão paroquial  já o pároco anterior havia iniado este processo. Continuei a fazer o salão, reduzido no tamanho, de acordo com as pessoas. Procuro ser democrático com todos, perdemos muito tempo com burocracias, uma dificuldade muito grande, não só com o arquitecto, que demora muito a resolver o processo, apreciações das secretarias do governo, câmara municipal... tudo isto fez demorar o inicio desta obra. Durante todo o tempo fomos juntando dinheiro para esta mesma obra, que está muito longe de prover o pagamento desta primeira fase. De qualquer maneira aproveitamos também uma vez que no dia 4 de Junho celebrámos os quinhentos anos que foi contruída a igreja matriz, e achámos até bonito, no mesmo dia iniciare-se as obras do novo salão, cuja primeira pedra já tinha sido lançada para entusiasmar a comunidade e as pessoas, na festa da senhora da Estrela, no ano 2006.

JGS - Para terminar, um palavra a  para os nossos imigrantes no Canadá, em praticular aos Ribeiragrandenses. Pode ser?
Pe. MG - Eu já conheço as comunidades imigrantes há muitos anos, até antes de ser padre já tinha vindo ao Canadá. Depois tive cerca de dez anos que não vim cá. Posteriormente comecei a vir com muita frequência, até cheguei a vir duas vezes por ano visitar a minha família; como também já preguei aqui na altura da festa de Nossa Senhora de Fátima nesta mesma igreja de Brampton. Também fui a Montreal pregar na festa de N. S. da Estrela, já fui ao convívio dos Ribeiragrandenses, também a Montreal, como já conheco as comunidades imigrantes de Fall River nos encontros não só dos oriundos da Ribeira Grande como também nos encontros dos capelenses. Fui ao primeiro com mil e tal pessoas em Fall River, mas tenho sempre uma impressão muito possitiva dos nossos imigrantes, a vontade que tenham de ajudar a paróquia onde nasceram ou casaram, no bom relacionamento, sabendo que a vida não é fácil em Portugal mas a vida também não é menos fácil no Canadá. Eu sei claramente que se um casal não trabalhar, marido e mulher, não é fácil sustentar as vossas casas e conservá-las e até conseguir a própria casa. Vejo sempre muito boa vontade em colaborar contando mesmo  este encontro e convívio que estamos hoje a fazer que foi organizado em cima do joelho.
Mas a vontade das pessoas é sempre muito grande. Para além na Matriz da Ribeira Grande, nós temos duas festas que tocam aqui muito os ribeiragrandenses, que é a festa de Santa Luzia, a 13 de Dezembro, e a festa da Senhora da Estrela no primeiro domingo de Fevereiro. E são imensas as cartas; não comparo com o Senhor Santo Cristo dos Milagres em Ponta Delgada, porque é impossível, porque eles recebem muito mais, mas são muitas as cartas de pessoas daqui imigradas que enviam a sua oferta e a sua promessa a Santa Luzia e à Senhora da Estrela. Para mim as impressões são sempre muito positivas, vejo que há sempre aquele apego e ligação à terra e não se desenraízaram das suas tradições.

JGS - As últimas palavras são suas, para os organizadores desta festa...

Pe. MG - Aproveito para agradecer pela sua presença e de me dar a oportunidade de falar ás pessoas através da comunicação social escrita. Infelizmente não é aquela que é mais concorrida no nosso tempo, as pessoas lêm muito menos, mas é um meio de comunicação que a gente deve respeitar e deve continuar  a investir na escrita nos jornais. Um agradecimento também aos organizadores desta festa, como às pessoas que vieram aqui participar neste jantar, porque alguns podiam ter ido para um passeio até às praias ou ao campo, e saíremr daqui, da rotina diária; como também agradeço à Igreja de N.S. Fátima  - que reduziu o preço do arrendamento do uso de salão para esta festa - como a toda a gente que deu alguma coisa a favor, sem esquecer ninguém que de uma maneira ou outra contribuiu. Um agradecimento sincero em nome da Matriz de Nossa Senhora da Estrela da Ribeira Grande para todos.
Boa sorte a todos os nossos imigrantes que cá vivem, tenham sempre muita saúde e as maiores benções de Deus.

JGS - Da nossa parte desejamos-lhe um bom regresso a São Miguel, e que em breve veja realizado este seu sonho o mais breve possivel em prol da população e das crianças da Ribeira Grande.

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