Hildebrando Silva - Pintor

Data de Nascimento: 24 de Outubro de 1922
Local de Nascimento: Freguesia da Sé, Cidade de Angra de Heroísmo, Açores
Residência Actual: Toronto, Canadá

A Silenciosa Eloquência dos Pincéis

Iniciamos pelo título o qual deverá captar, em si, a essência, espírito e assunto de qualquer trabalho. Ao recordar o nosso encontro com Hildebrando Silva no seu arejado e asseado atelier aflora-nos à mente a sua introvertida modéstia, a humildade dos seus gestos e as parcas, mas sábias palavras. Ao seu redor um semear de imagens, quadros vários e variados que nos falavam de um ser. Na prateleira de uma estante branca os tomos empilhados das diversas influências artísticas sofridas ao longo dos anos, Da Vinci, os Impressionistas, a Arte através dos tempos ....

De semblante quase desconcertante pela frescura e inocência de criança espelhada nos olhos, nada indicia os seus quase 80 anos de vida! Aqui, neste lugar, os quadros que povoam o espaço são o código mais decifrável e transparente de toda a sua história. Ali, o arranjo simétrico e ordenado dos seus pincéis estendido sobre a prateleira - os pincéis, as eloquentes e silenciosas vozes companheiras de toda uma aventura pela pintura.

Obras feitas e outras em progresso revestem as paredes e os cantos. Aguarelas das ruas e praças da sua amada terra, a Terceira, ainda as do Faial, os castanhos siena das taciturnas casas de tijolo torontinas, tombadas em jardins descuidos, o rubro deslizar de um eléctrico pelos carris de Portugal Village, as fogosas e intrépidas caravelas suspensas na crista de uma onda num mar bravio numa larga e imensa tela a óleo pousada no cavalete, o heroísmo lusitano gravado no coração da pedra e dos homens sobre o olhar vigilante dos Cortes Reais na Terra Nova - lençol de história pintado pela mão de quem dá forma a um passado onírico - os registos de religiosidade popular na lenda de fé de rosas e pão, retratos de gentes que são e já lá foram.

Hildebrando Silva falou da sua infância na Cidade de Angra de Heroísmo ao cuidado de uma tia, que tanto encorajou o fascínio de menino pela forma e desenho que Hildebrando vinha revelando desde tenra idade. Finda a instrução primária, emprega-se no comércio local e frequenta o curso comercial nocturno da Escola Comercial e Industrial Madeira Pinto na Cidade de Angra.

Em 1947 transita para a Base da Força Aérea Americana nas Lajes onde trabalhou numa secção de artes gráficas de Engenharia e mais tarde no Comando Americano. Durante este período prolífico e de intensa actividade, que o pintor descreve como sendo os seus tempos áureos, desenvolve a sua polivalência artística ao elaborar cartazes para eventos dentro e fora da base, cenários para várias iniciativas de teatro e murais. A base das Lajes foi considerada uma das mais bem decoradas do mundo, devido, em larga medida, à mão criativa de Hildebrando Silva. O seu bom gosto e talento artístico levou que fosse convidado a participar em várias amostras e concursos de arte como participante e júri. As festas da Cidade de Angra da época, dedicadas ao São João, viam desfilar os carros alegóricos desenhados e concebidos pelo então jovem pintor.

Emigra para o Canadá em 1966. Radicado em Toronto, o pintor dá continuidade à sua obra, presente num sem número de colecções particulares e no espólio artístico de algumas igrejas da comunidade portuguesa em Toronto. Participou em várias exposições individuais e colectivas, tanto nos Açores como no Canadá onde desempenhou um papel preponderante em manter a chama da arte viva nas gentes imigrantes e de quem mereceu, pela sua obra e postura, todo o respeito e carinho.

Visto fundamentalmente como um pintor realista - retratista e paisagista - Hildebrando Silva realiza os seus trabalhos em diversos meios, na pintura a óleo, aguarela, carvão e ocasionalmente o pastel. Embora reconhecendo que o gosto do público tende para o realismo, a influência do impressionismo prevalece em muitas das suas peças. Não obstante a predominância do realismo na sua obra, faz incursões ocasionais pela arte abstracta, o que lhe proporciona um canal para a expressividade subjectiva.

Faz menção dos grandes como Rembrandt, El Greco, Monet, Cezanne, Van Gogh e Picasso. Contudo, rege-se pela empatia ao avaliar determinada obra ou pintor. Louva a técnica e o imaginário do surrealista Salvador Dali. Considera que a exposição contínua a diversos estilos, cromática, técnicas e meios como o melhor mestre de qualquer jovem pintor aconselha a perseverança como companheira de percurso.

Ambiciona continuar a dar forma ao belo e sonhar com os tesouros do Louvre, El Prado e o mundo das artes nova-iorquino.

Entre as várias mostras do pintor destacamos as exposições individuais e colectivas realizadas nos Açores: Base das Lajes, Rádio Clube de Angra e o Congresso das Comunidades Açoreanas na Cidade da Horta. e no Canadá: Adiaspora.com, Galerias Corte Real e Almada Negreiros, Vasco da Gama Community Centre, Casa dos Açores de Toronto, Ciclos de Cultura Açoreana, Clube Lusitânia, First Portuguese e outras ....