Comunidade,
Identidade e Cultura Popular
A relação
entre os termos Comunicação, Identidade e Cultura
Popular é uma relação que normalmente é
pautada por uma série de equívocos assentados
pelo tempo histórico e sociológico, resultado
das origens teóricas de cada um e das suas vinculações
políticas a alguns fenômenos como globalização
da informação, mundialização da
cultura e tecnicização da experiência. A
ambigüidade que está na base da própria relação
que une os termos faz-nos pensar se ainda é possível,
diante deste fenômenos, atualizá-los numa perspectiva
interativa, capaz de, ao mesmo tempo, atender as exigências
contemporâneas das práticas sociais, sem perder
o seu sentido político.
Por isso, a proposta desta intervenção
é justamente pensar estes termos em relação,
como se fizessem naturalmente parte de um triângulo hermenêutico,
onde cada termo só teria existência significativa
se analisado em função do outro. Parto do princípio
de que a comunicação é a base constitutiva
da cultura popular, local privilegiado da construção
de identidades, da organização da memória
coletiva e do pertencimento individual. Mas, o que é
a comunicação vista nesta perspectiva?
1- O PRINCÍPIO CONSTITUTIVO DA SOCIABILIDADE
Comunicação é, tal como
algumas outras palavras que fazem parte do nosso quotidiano,
um dos termos mais ambíguos da contemporaneidade. A confusão
de interpretações e o emaranhado de usos a que
este termo omnipresente se presta tem muito a ver com a natureza
do seu sucesso atual e com a sua vinculação a
vários processos culturais, políticos e sociais
que sustentam o desenvolvimento humano. Pelo menos dois sentidos
são utilizados no quotidiano para definir comunicação.
Por um lado, dizemos, por exemplo, que é preciso comunicar
bem ou de maneira adequada à obtenção de
determinado objetivo ou à realização de
determinada ação.
Neste sentido, uma pessoa comunica bem, quando
consegue relacionar-se adequadamente com os outros, e deste
modo, consegue fazer com que os outros sejam levados quer a
aceitar as suas opiniões e as suas crenças, quer
a realizar os objetivos que pretende atingir e, deste modo,
comunicar equivale a relacionar-se com os outros. Aqui, a comunicação
é entendida como uma competência ou uma habilidade
individual, isto é, a capacidade ou a competência
inata que qualquer ser vivo possui para se relacionar com o
mundo natural, com os outros seres vivos e consigo próprio.
Neste sentido, dizemos que a comunicação
abrange o conjunto de trocas que os seres vivos estabelecem
com o meio ambiente com vista à manutenção
e ao restabelecimento da sua integridade física, assim
como o relacionamento de complementaridade ou de rivalidade
que os seres vivos estabelecem entre si, no quadro do seu território
comum ou do seu ecossistema.
Por outro lado, comunicar pode significar a
transmissão de informações através
de um dispositivo técnico que serve de meio ou de instrumento
para transmitir informações. Falamos então
de comunicação como o meio ou o canal que garante
os fluxos de informação num determinado suporte,
assim também como a mensagem produzida nestes meios.
Nesta perspectiva, a comunicação é gerida
por dispositivos de interação mediatizada, constituindo-se
em torno de territórios abstratos, sem enraizamento nem
espessura cultural, mas com uma profunda capacidade de circularidade
e repetição.
O que estas concepções da comunicação
ignoram é o fato de a comunicação humana
não ser apenas um instrumento destinado à transmissão
de informações, nem somente a posição
que cada um ocupa no processo de transmissão, mas um
processo de partilha da experiência do mundo; mundo este
visto aqui como um sistema simbólico de compreensão
de tudo o que pode ser dito, traduzido em palavras, de tudo
aquilo que tem nome e, portanto, significado para mim e para
os outros (Marques 2005: 8). Sendo assim, a comunicação
aparece neste contexto como um valor, um axioma, isto é,
como o princípio constitutivo das formas de sociabilidade
concretamente experenciadas, das modalidades de interação
que se enraizam na memória de uma história comum
partilhada no quadro das comunidades humanas.
Podemos, pois, afirmar que a comunicação,
nesta concepção simbólica, é a base
da
Experiência, ou seja, da relação específica
que o homem estabelece com o mundo natural, como o mundo intersubjetivo
e com o mundo intrasubjetivo. É esta relação
que distingue a maneira como o homem habita o mundo em relação
às demais espécies que vivem no mesmo ambiente.
A esta maneira distinta de o homem habitar o mundo damos o nome
de vivência e designamos o mundo que o homem habita por
mundo vivido ou mundo da vida (em alemão Lebenwelt).
O mundo vivido ou o mundo da vida tem como característica
fundamental o fato de ser dotado de sentido. (Rodrigues 2000:
4)
Estes três tipos da experiência
formam uma espécie de teia complexa reticular que define
a nossa identidade individual e o reconhecimento da identidade
dos outros, num jogo significativo pautado pela diversidade,
singularidade e pluralidade. Este reconhecimento é um
processo mútuo e recíproco que depende de um jogo
de expectativas que alimentamos em relação ao
curso normal dos fenômenos em cada um dos domínios
da experiência. É este jogo de expectativas que
nos permite ajustar adequadamente o nosso comportamento às
circunstâncias, que nos permite possuir um lugar de fala
e produzir um discurso próprio.
Um dos aspectos fundamentais da experiência
é a sua relação com o mundo simbólico
da linguagem porque é só através da mediação
da linguagem que o homem acede a um re-conhecimento racional,
especificamente humano, de natureza reflexiva, da experiência.
É a esta mediação reflexiva da experiência,
materializada no discurso e no seu reflexo nos processos de
interação com o mundo, que chamamos de comunicação.
Portanto, comunicação é, ao mesmo tempo,
uma ação que se dá entre os homens - cujo
sentido é interpretado individualmente por cada um dos
intervenientes do processo-, e um discurso que só pode
ser compreendido coletivamente, porque fundamentado em regras
interiorizadas pelo hábito, pelo costume, pelos afetos,
pelos sentidos, pela cultura.
A cultura emerge neste contexto, então,
como o universo simbólico onde a comunicação
se dá pela vivência, pela troca, pela sedimentação
de saberes. E, nesta perspectiva que podemos pensar na cultura
popular no contexto da realidade contemporânea, como locus
privilegiado de manifestação do sagrado.
2– O FUNDO ARCAICO DA CULTURA
A discussão sobre o conceito de cultura
popular tem suscitado ao longo da história diversas teorias
e perspectivas acadêmicas, associando-a tanto à
natureza, quanto à sociedade e à civilização,
com inúmeras conotações polissêmicas,
ora relacionada a uma perspectiva individual, com impacto no
conceito de homem; ora relacionada a uma perspectiva coletiva,
voltada para a noção de grupo, ação
ou campo social.
No entanto, por prestar-se aos mais diferentes
interesses, a natureza tática e fluida da cultura move-se
de um contexto para outro, com significações diversas,
demarcando fronteiras, estabelecendo categorias de pensamento,
justificando ações e atitudes, especificando usos,
relacionando práticas da organização simbólica,
da produção social de sentido, do relacionamento
com o real. É por isso que os significados correntes
de cultura oscilam entre o conceito de um todo, um sistema total
de vida, e o de uma prática cultural (2) diferenciada,
parcelar, mas sempre ao redor de uma unidade de coerência,
um foco de manifestação da verdade, do sentido,
da razão (Sodré l988:l3-l4). Essa também
é a perspectiva da cultura como um sistema simbólico,
que tem em Geertz seu mais profundo articulador e para quem
o conceito aparece:
«Não como complexo de padrões
concretos de comportamentos - costumes, usos, tradições,
feixes de hábitos -, mas como um conjunto de mecanismos
de controle - planos, receitas, regras, instruções,
programas e pré programas - para governar o comportamento.
O homem é precisamente o animal mais dependente destes
mecanismos de controle, extragenéticos, fora da pele,
de tais programas culturais, para ordenar seu comportamento».
(Geertz 1989:56)
Neste caso, a cultura - a totalidade acumulada de padrões
culturais - em vez de ser acrescentada a um animal acabado,
é um ingrediente essencial na evolução
social desse mesmo animal. Isto porque, a cultura fornece o
vínculo entre o que os homens são intrinsecamente
capazes de se tornar, e o que cada um efetivamente se torna
no contexto da vida social.
«Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós
nos tornamos individuais sob a direção dos padrões
culturais, sistemas de significação criados historicamente
em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direção
às nossas vidas. (...) Assim como a cultura nos modelou
como espécie única - e sem dúvida ainda
nos está modelando - assim também ela nos modela
como indíviduos separados. É isso o que temos
realmente em comum - nem um ser subcultural imutável,
nem um consenso de cruzamento cultural estabelecido»(Geertz
l989:64).
Esta concepção foi atualizada nos últimos
tempos por Thompson para quem a cultura, além de ser
parte de um sistema simbólico, tem de estar assentada
em contextos estruturados A concepção estrutural
de Thompson, propõe a Cultura como sendo uma estrutura
estruturada e estruturante (3) de produção e interpretação
de formas simbólicas que circulam na vida social em determinado
lugar e temporalidade e que são realizados pelos sujeitos
individuais e coletivos. Estas estruturas estruturadas e estruturantes
dizem respeito aos âmbitos da materialidade e da imaterialidade
que regem o mundo social. E é nestas estruturas que a
vida social faz sentido para o homem. Ao nascer o homem já
encontra o mundo com sua própria organização
e insere-se nele. Esta organização possui uma
estrutura estruturada social, histórica e culturalmente,
isto é, um mundo cuja regras, normas, tipificações
e legitimações já estão relativamente
estabelecidas. Desse modo, os sujeitos encontram-se assim inseridos
em uma dada estrutura, que lhes já é imposta,
nesta ou naquela condição social, política
e econômica em uma determinada época e lugar. O
fato de que o mundo já existia antes de nós e
existirá depois é marcante para o estabelecimento
das relações sociais que os sujeitos irão
realizar entre si.
Por outro lado, a vida social também
é formada por estruturas estruturantes, ou seja, por
um conjunto de regras, normas e sistemas de produção
simbólica que atua através da linguagem. E isto
é possível por que estas estruturas estruturantes
possuem um certo grau de convencionabilidade que possiblita
a apropriação, interpretação e produção
simbólica dos sujeitos individuais e coletivos. É
através da linguagem que o sujeito individual vai objetivar
a parte da sua subjetividade que deseja comunicar ao mundo.
Deste modo, é possível realizar processos de socialização
com os Outros partilhando assim suas subjetivações
e objetivações através de representações
sociais.
Mas, o que há em comum a todas estas
perspectivas, portanto, é que apesar das diferenças
de sentidos, a cultura remete sempre a um princípio constitutivo
originário que tem a ver com a própria existência
arquetípica (4) do homem, manifestando-se através
da consciência coletiva como uma estrutura psíquica
quase universal, inata ou herdada, carregada de um grande poder
energético e que se revela no fundo arcaico,
ou seja, num conjunto de estratos subterrâneos, resultado
de um imaginário (5) mítico primitivo e fundador,
constante na história humana, independentemente de qualquer
circunstância temporal ou espacial. É este fundo
arcaico que garante, no imaginário cotidiano, uma produção
de sentidos simbólicos que se deslocam, conforme as circunstâncias
e interações da vida social, formando uma memória
longa e ritualística.
Por isso, o fundo arcaico aparece aqui como
um princípio constitutivo dos conhecimentos religiosos,
militares, jurídicos, científicos, sociais e políticos
pré-modernos que volta sempre que é solicitado
pelas exigências da contemporaneidade. Presta-se, então,
a novos reflexos e a novos efeitos de sentido que são
lançados no quotidiano efêmero da experiência
coletiva para assegurar a comunicação de base,
a permanência social e tornar o cotidiano aceitável.
É evidente que, por representar o que
de mais estável, dinâmico e permanente possui uma
sociedade, o fundo arcaico permanece na contemporaneidade desdobrado
em variantes para atender as exigências de uma cultura
plural, sem fronteiras ou limites. É ele que percorre
as camadas sociais adotando sentidos específicos conforme
as exigências, e gerando uma multiplicidade de formas
culturais estilhaçadas. A cada vez que uma forma cultural
é gerada, está já é em si, o resultado
de representações e conteúdos dispersos
e fragmentados de formas culturais anteriores dispostas pelas
camadas sociais e reelaboradas pelo saber-fazer criativo do
fundo arcaico.
O fundo arcaico funciona, portanto, como o
núcleo básico constitutivo da memória longa
e tradicional da cultura popular, fazendo parte de um savoir-faire
mais próximo do indivíduo e das suas experiências
coletivas, resultado de sua representatividade sociocultural.
Esta mobilidade do fundo arcaico é decorrente da sua
natureza mítica transformadora, capaz de fixar os modelos
adequados às transposições imaginárias
necessárias à manutenção do seu
ambiente, mas, ao mesmo tempo, de fixar um acontecimento primordial,
de preservar uma verdade absoluta, de totalizar uma experiência.
É por isso que podemos pensar a cultura
popular como uma cultura plural, capaz de dar conta das transformações
exigidas pela contemporaneidade e manter-se como parte de um
universo simbólico. Num primeiro momento, um fenômeno
aparece como sobrevivência atualizada das formas culturais
míticas, remetendo os seus significados para o retorno
dos ritos sociais, das reminiscências transmitidas através
das gerações, força singular de sua manutenção
e dinamicidade para atualizar a sua arkhé, os
fundamentos do sentido em que a unidade implica na multiplicidade,
e esta na totalidade.
Num segundo momento, aparece como forma de
produção das indústrias culturais
(6), mas já sem a dimensão hermenêutica
e simbólica da experiência prevista na primeira
variante. É o princípio constitutivo, agora obliterado
em função da natureza amnésica
da sociedade pós-moderna, que oferece a ilusão
constante de um modelo totalizador das dimensões ao fundir
o oral, o auditivo, o visual e o sonoro numa vivência
efêmera, esteticizante e transitória.
Como modelo, esta segunda variante dispõe
formas tradicionais aos dispositivos sociais alimentado-os culturalmente,
sob o modo de retorno do arcaico e da tradição
na contemporaneidade, já que estes dispositivos não
têm em si um enraizamento comunitário e cultural
próprio, adotando sentidos transitórios,
conforme as circunstâncias. Não há pois
preocupação em constituir uma experiência
coletiva que indique a continuidade de um projeto social. O
que há é o seu oferecimento como modelo polissêmico,
idéia utópica permanente de uma experiência
anterior ao aparecimento da indústria, e que possui suas
raízes numa dimensão atemporal e an-espacial.
«Para se prestar, no entanto, a esta reciclagem mediática,
um determinado fundo mítico primitivo tem de ser submetido
a um processo específico de esquecimento e ocultação,
de modo a estabelecer-se com ele não uma relação
de rememoração atualizante como nos processos
rituais das respectivas instituições de origem,
mas de reminiscência. » (Rodrigues 1990:154).
São estas variações do fundo arcaico que
a cultura dispõe para se inscrever na realidade e constituir
um espaço próprio de experiências, servindo
tanto de base fundadora para interiorização e
enraizamento dos individuos na sociedade, através da
adesão a um sistema de padrões e de valores, como
de campo específico de atuação por onde
os fenômenos culturais são objetivados pelos grupos
sociais como manifestações de suas experiências
comunitárias.
Porém, as variações do fundo arcaico só
são possíveis em função da produção
de sentidos que ocorrem a cada vez que os grupos sociais reforçam
a sua identidade interna, através do seu universo simbólico
(7), quando entram em contato com outros fenômenos culturais
ou ainda com outros atores sociais. Estes deslocamentos do fundo
arcaico produzem sentidos e acompanham o próprio deslocamento
das identidades que surgem neste contexto como resultado do
processo de interação. O conceito de identidade,
portanto, é pensado neste artigo como resultado do processo
de enrazimento e de pertencimento dos grupos numa determinada
cultura.
3 – IDENTIDADE E DIFERENÇA
A primeira afirmação que fazemos
é que, embora o mundo seja infinito, a diversidade dos
pontos de vista sobre o mundo é finita, o que segundo
Dominique Wolton, pressupõe um estoque limitado de concepções
a que chamamos as identidades culturais. Nesta perspectiva,
pensar as identidades culturais significa pensá-las de
um lugar de fala definido pelo local, cabendo às culturas
populares, o espaço de expressão do local como
afirmação de singularidades. Significa afirmar
que o fim das distâncias físicas revela a importância
das distâncias culturais e a reafirmação
política dos grupos sociais na tessitura cultural. O
local funciona assim como um espaço simbólico,
capaz de dar a cada um dos seus atores o sentimento de segurança,
estabilidade e pertencimento necessários para a sua convivência,
por exemplo, com o global e com toda a sua produção
desintegrativa.
Mas, é preciso deixar claro que a afirmação
das identidades não pressupõe fechamento, museificação,
tradicionalismo ou reacionarismo. Pressupõe analisar
o local como um espaço aberto à história,
vista aqui como “em processo de permanente gestação”.
“De fato, o local afirma identidades na medida em que
propicia a inserção do peculiar, do específico,
do singular na vida social, viabilizando, através da
comunicação, convivências e articulações.
O local afirma e reafirma valores, estilos e formas que distingue
determinado grupo numa perspectiva voltada para fora.”
(Carvalho 2002:12) Neste contexto, as identidades culturais
funcionam como forma de resistência/convivência
face à desintegração cultural e a própria
violência simbólica de imposição
de mercadorias, dos valores e do estilos impostos ela realidade.
Deste ponto de vista, a afirmação
das identidades gera como efeito direto a questão da
coabitação das culturas no espaço global,
uma coabitação que, ao mesmo tempo possibilita
a movimentação e a sustentação das
identidades. Hoje, os grupos identitários procuram tanto
afirmar as suas identidades quanto gerir as suas mobilidades,
principalmente pelo aumento das trocas e das interações
proporcionadas pela comunicação. Esta questão
impõe que o problema seja pensado, portanto, a dois níveis:
o primeiro, interno e primário, em que os grupos tem
que constantemente alimentar a sua memória ritualística
e sagrada, e o secundário externo e profano, em que os
grupos tem que necessariamente trocar experiências com
outros grupos semelhantes ou dissemelhantes.
No primeiro nível, os grupos aprofundam
o seu sentido de mundo, de si próprios e dos Outros,
através da interiorização de um conjunto
de regras, costumes, de valores e de princípios, a que
Bordieu dá o nome de hábitos. A interiorização
simbólica que dá forma à cultura é
naturalizada pelos afetos, pelas sensações, pelos
sentimentos e pela vivência, ultrapassando qualquer interpretação
racional e atingindo cada um diferencialmente, conforme as capacidades
singulares de apreensão. O resultado destas apreensões
sugere uma espécie de ação política
que se traduz por uma consciência primária, uma
competência a que Aristóteles dava o nome de sabedoria
prática, traduzida pelo equilíbrio das posições
extremas, por uma tranqüilidade de comportamento.
No segundo nível, os grupos interagem
com o mundo circundante para afirmar as suas identidades e destacá-las
do mundo comum das coisas, pela necessidade de abertura aos
Outros; pelo fascínio que a abertura proporciona a cada
um, mas também pela possibilidade de conquistar um lugar
na complexa e difícil geometria do poder simbólico
e que configura uma rede disciplinar de controles culturais
e de gestão dos recursos postos à disposição
das indústrias culturais.
Ora, é na conjunção destes
dois níveis que as identidades culturais se constituem
e são constituídas pela realidade social, histórica
e socialmente. É, na conjunção destas trocas
simbólicas que as identidades culturais se diferenciam,
se fortalecem e se localizam como discursos regionais ou de
raízes. É na conjunção destes esforços
que a comunicação adquire espessura enquanto discurso
produtor de sociabilidades, ao mesmo tempo em que a cultura
popular mantêm-se como o principal local de produção
simbólica como a única capaz de sustentar a condição
humana no passado, no presente e no futuro.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
COMUNICAÇÃO, IDENTIDADE E CULTURA POPULAR