A Ilha dos Sentimentos


1º Acto

Cena I

Amor, Riqueza, Vaidade, Tristeza, Solidão

(Na ilha dos sentimentos, os habitantes foram avisados que estava prevista uma inundação. Apavorado, o AMOR preocupou-se para que todos os sentimentos se salvassem).

AMOR Fujam todos! A ilha vai inundar!

(Todos correram e apanharam seus barquinhos para chegar num lugar onde havia uma serra bem alta. Só o Amor não se apressou. Ele queria ficar um pouco mais com a sua ilha. Mas passado um pouco, a hora da partida acabou por chegar e, então, como não tinha barco, acabou por ter de pedir boleia aos seus amigos…).

AMOR Riqueza, levas-me contigo?

RIQUEZA Não posso, Amor, meu barco está cheio de ouro e prata, e não tem espaço.


AMOR Vaidade, levas-me contigo?


VAIDADE Não posso! Vais sujar o meu barco novo!


AMOR Tristeza, e contigo posso ir?...


TRISTEZA Oh, Amor, estou tão triste …Prefiro ir sozinha.


AMOR Alegria, e tu, és capaz de me levar?

(Ninguém lhe respondeu. A Alegria estava tão alegre que nem o ouviu).

AMOR Será possível que todos os meus “irmãos” do coração me abandonam quando mais preciso deles?!...

SOLIDÃO Parece que eu serei a tua eterna companheira, quer queiras quer não...

(O Amor, desesperado, começa a chorar. As suas lágrimas escorrem pelo rosto de uma forma tão intensa que o nível da água começa a subir e a atingir a ilha a uma maior velocidade).


Cena II

Velhinho, Amor, Sabedoria

(Mas, de repente, no meio do nada surge um velhinho num barquinho muito pequenino e frágil).

VELHINHO Sobe, Amor, eu levo-te.

(O Amor ficou tão feliz por poder sair dali rapidamente que até se esqueceu de perguntar o nome do velhinho. Entrou para o barquinho a correr!
Chegando ao alto da serra, o Amor perguntou à Sabedoria quem era o velhinho que o levara para ali).

AMOR Sabes quem era aquele velhinho que me trouxe? Ele ao chegar aqui, deixou-me e partiu sem sequer me dar tempo de lhe perguntar o que quer que fosse).

SABEDORIA Ora, meu amigo, quem haveria de ser?! Foi o TEMPO!

AMOR O TEMPO?! Mas por que razão só o TEMPO me trouxe até aqui?

SABEDORIA Ora, porque só o TEMPO é capaz de cuidar e entender um grande e genuíno AMOR.


Adaptação de um texto anónimo

Célia Carmen Cordeiro

Novembro, 2006