Manuel Bulhões da Ponte: Confissões de um Músico




"Nasci a 15 de Março de 1946 na Freguesia das Furnas, Concelho da Povoação. Filho de pais de idade já avançada tive uma infância normal. Aos sete anos de idade ingressei na escola primária onde fui sempre bom aluno, muito embora um pouco falador. Desde a primeira classe à quarta, que completei aos onze, fui sempre o melhor aluno a desenho.

Uma vez completada a instrução primária, fui trabalhar como aprendiz de carpinteiro e marceneiro na oficina de um meu primo, o Mestre José da Cunha e do seu colega, o Mestre João Orlando. Lá permaneci pouco mais do que um ano. Como não havia qualquer remuneração, decidi ir trabalhar para a Estrada da Achada das Furnas, onde exerci várias funções, especialmente a de engenhocas. Felizmente tinha mais habilidade do que o próprio mestre.

Na minha terra natal dei expressão à minha criatividade ao produzir presépios, desde aos figurinos, casas e igrejas em miniatura, enfim a aldeia toda.

Como sempre adorei a música, de seguida decidi construir os meus próprios instrumentos musicais visto ninguém estar disposto a emprestar os seus à rapaziada. O primeiro foi um bandolim, o segundo um violino e o terceiro um violão no qual aprendi alguns acordes, uns três ou quatro, sozinho sem mestre.

Para incrementar os meus conhecimentos musicais, decidi ingressar na Filarmónica Furnense, onde, aos dezasseis anos de idade iniciei os meus estudos de solfejo. Logo de seguida, em 1962, recebi a carta de chamada para o Canadá, para onde emigrei no ano seguinte. Tinha eu então apenas dezassete anos de idade. Claro que o solfejo ficou para trás mas ao chegar ao Canadá comprei um óptimo violão a um professor de música canadiano e passei a preencher os meus tempos livres a tocar o pouco que sabia.

Em 1964 juntei-me ao agrupamento musical da Igreja de Santa Maria em Toronto onde conheci o António Rebelo, acordeonista e José Aguiar, baterista, com quem comecei a tocar, tendo com eles fundado o grupo Boa Esperança. Mas com o advento do verão, resolvi ir trabalhar na colheita do tabaco e quando regressei o grupo tinha arranjado um outro guitarrista. Seguiu-se um período de cerca de 8 anos durante o qual me desliguei da música.


Conjunto Boa Esperança

Certo dia, já casado e pai de um menino de cinco anos, sai de casa enervado e dirigi-me a um bilhar nas imediações com o intuito de me distrair um pouco. Quando lá cheguei ouvi música a imanar da cave do estabelecimento e, curioso como sou, decidi logo investigar. Na cave encontrei um grupo de jovens músicos e na conversa confessei-lhes saber dar uns toques na guitarra. Informaram-me que o seu guitarrista, Frank, tinha decidido casar e sair de grupo. Convidaram-me a substitui-lo. Aceitei e de seguida fui comprar uma nova guitarra e o respectivo amplificador.

Foi assim que recomecei nas lides musicais como guitarrista do conjunto Águias Negras. Desde então nunca mais parei de tocar. Mais tarde seguiram-se os conjuntos Desire, Chave Douro, Road Runner, Last Chance e finalmente Os Vadios, conjunto com o qual toco actualmente.

Devo confessar que já passaram nas bandas das quais eu fiz parte tantos músicos, que será mais fácil mencionar os músicos que ainda comigo não tocaram.

Por toda esta minha jornada como músico, o meu filho foi o que mais me apoiou, tendo sido o meu braço direito nestes últimos doze anos.

A música tem sido a "minha melhor amante" ao longo de toda a minha vida, pois tem me acompanhado fielmente, na alegria e na tristeza, na abundância e na escassez. É com ela que estou comigo mesmo."

Texto de Adiaspora.com

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