GENEALOGIA E HISTÓRIAS DE PORTUGAL


Genealogista Ivo Azevedo

Todos nós temos em comum a curiosidade de saber quem eram os nossos antepassados. Quase sempre que vimos fotos antigas de família, pensamos quem seria essa gente.
Como se chamavam, o que faziam como viviam?
Recomendo que sejam ouvidas as histórias dos nossos familiares e amigos mais velhos. Eles foram contemporâneos de factos importantes da História de Portugal e por vezes até testemunhas! E não é necessário ir muito longe... Por exemplo, meu pai nasceu em 1908, portanto tinha dois anos quando se deu a implantação de Republica e aos oito anos de idade estava presente quando o Presidente da Republica Portuguesa Sidónio Pais, foi assassinado no Rossio.
Todos nós temos antepassados, não muito longínquos, que eram bem vivos enquanto se travavam a primeira e segunda guerras mundiais, e outros até que sofreram com as três Invasões napoleónicas.
Olhando à volta de uma sala com uma audiência de idade adequada, por certo vemos pessoas que lutaram na África Portuguesa, assistiram à entrada para a União Europeia etc., e têm muito para contar. É muito triste que as experiências do passado se percam, para sempre, quando a nossa vida termina!
Por isso repito, sem dúvidas, ouçam os velhos, escrevam essas histórias, que são testemunhos reais de acontecimentos importantes, por vezes mal relatados ou até deliberadamente alterados! E não se esqueçam, escrevam ou gravem as vossas próprias histórias! São muito importantes! Pensem que, dentro de um, dois, ou até muitos mais séculos, podem vir a ser muito apreciadas pelos vossos descendentes.
A genealogia é uma ciência, fácil em princípio, que está ao alcance de todos.
Descobrir quem são os nossos antepassados mais próximos é, em condições normais, bastante simples. Mas quando chegamos lá bem para traz, duzentos, trezentos ou mais anos, então à que traduzir para linguagem moderna, documentos que estão em linguagem arcaica, cheios de termos que não são familiares, e, por vezes excluindo informação necessária ou contendo erros de nomes ou idades.
Pergunta: Porquê estudar a Genealogia das nossas famílias?
Resposta: Porque estando a viver num pais de língua diferente da nossa, e tendo por certo que sucessivas gerações não terão tanta facilidade em perceber a Nobre Língua Lusitana como nós, é muito possível que sejamos os últimos capazes de o fazer.
No meu portal na Internet, tento ensinar como se obtém e lê registos e documentos. Mostro o teor e composição de frases nos três tipos de documentos mais comuns: baptismo, casamento e óbito. Ilustro como se começa e cataloga as informações que vamos obtendo. Há também uma cábula da História de Portugal, em pequenas “pílulas”, para referência.
E, uma carta em Inglês, para os nossos netos aprender o que é ser Português.
Recomendo como absolutamente excelentes, a zona da Genealogia em www.adiaspora.com, a Site da Torre do Tombo www.iantt.pt e as múltiplas sites sobre Genealogia Portuguesa. O que realmente é fascinante são as histórias que se vão encontrando. Por vezes verdadeiros romances, anedotas ou dramas, que antes de iniciar as pesquisas eram totalmente desconhecidos: heróis e bandidos, nobres e camponeses, ricos e pobres, foram todos igualmente nossos antepassados e devemos a eles estar aqui.
Ofereço como exemplos alguns documentos:
O primeiro que nos diz que aos 27 dias de Agosto de 1714, casaram dois jovens meus antepassados – dez gerações. Isto numa pequena vila perto do Porto. O pai da Noiva é somente identificado pela sua alcunha, “O Sineiro Velho” e a mãe do Noivo com a “Feia do Loureiro”! Não se lêem lá nomes! Claro que aqui terão de parar as pesquisas daquela linha da família!
Ora o que se pode aprender? Casam dois jovens, Infelizmente ele herda a alcunha de “O Feio” e, 292 anos depois, cá estou eu, que também não posso fugir à mesma alcunha! Outro dos seiscentos documentos que tivemos a paciência de obter, diz que em Novembro de 1664 “faleceu da vida presente” um meu avô em décima-quinta geração, chamado Bernardo Afonso, e que o filho lhe fez o enterro.
O que é interessante saber é a forma de pagamento ao Pároco: “Quatro Alqueires de pão cru, e um cesto e um carneiro.” Mas quando chegou à hora do enterramento teve também que dar mais um almude de vinho e, em dinheiro, o carreto e a cadeia do sino! E o Padre escreveu: “o que vou aumentando...” Ainda pensamos que os enterros hoje são caros trezentos e quarenta e poucos anos depois!
Começámos as nossas pesquisas familiares pensando que os nossos nomes de família, por exemplo Azevedo, ou no caso de minha esposa Correia, eram a mais significante parte da nossa ascendência. Mas geneticamente, não é. Hoje aceita-se cientificamente que herdamos uma combinação, das características tanto dos nossos Pais como das Mães, em proporções iguais com resultados variáveis devido ao efeito dominante ou recessivo dos seus genes.
A Genealogia genética está agora em plena infância. Mas vai ter certamente um grande futuro.
Enquanto pesquisando, deparei com outra curiosidade histórica que vale a pena relatar:
· No Mosteiro de Grijó existem dois túmulos para o mesmo cavalheiro.
· Um, de madeira, com a data 1245, tem bem gravado no seu lado o seguinte:
· “Aqui jaz o Infante Dom Rodrigo filho do segundo Rei de Portugal, Dom Sancho Primeiro do Nome”
Noutra sala, com um dístico similar, encontra-se, embutido num nicho na parede, um maravilhoso sarcófago de pedra, com a estátua jacente do dito infante, assente em quinze estátuas e quatro colunas curtas. Então porque é que há dois? O caso passou-se assim: O Infante Dom Rodrigo (por acaso bastardo) teve um duelo à porta do Mosteiro, com um outro cavalheiro, por razões envolvendo a honra de uma Donzela... E coitado, as duas coisas lá perdeu.
Os Monges, (Cónegos Regrantes de Santo Agostinho) piedosamente o jazeram num caixão de madeira que fizeram para o efeito. Depois, mandaram fazer, em mármore trabalhado, um sarcófago mais adequado à sua posição. Só que, alguém se enganou nas medidas... O Sarcófago, quando foi recebido, era demasiado curto para aceitar o longo corpo do Infante do Reino! Que fazer? Ouve a sugestão de se lhe cortarem um pouco as pernas! Mas não, a sugestão foi rejeitada por blasfema, tudo foi deixado conforme estava, – já por setecentos e sessenta anos – e assim o Infante tem, dois caixões na mesma Igreja!
Isto é somente para vos abrir o apetite...

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