António (Aluno): Quais foram as principais causas que os levaram a sair de Portugal?

Pioneiro João Martins: Sabes António, a nossa terra era muito pobre. O meu pai não tinha posses. Eu não tinha possibilidades de adiantar a minha vida. Já estava com 23 anos e queria casar como os outros. Não havia possibilidade de construir uma casinha. Apareceu lá na igreja um edital que dizia que quem quisesse vir para o Canadá, deveria submeter o seu nome no seu Concelho. Eu lá fui e fui aceite. Sofri muito. Passei muito como os outros mas a minha grande fé fez com que eu fosse. Ajudei os meus pais e irmãos. Ajudei a minha família toda pois chamei quase todos para lá. E que dificuldades passei na minha terra!

Aluno: Queria saber se foi muito difícil os senhores adaptarem-se ao estilo de vida do Canadá, e arranjar lá trabalho?

Pioneiro Armando Vieira: Foi com a língua que tivemos mais dificuldade pois não sabíamos falar francês ou inglês. A seguir, foi que viemos de Portugal para o Canadá trabalhar na agricultura que não dava muito dinheiro. Pensámos então: " É bom. Temos de ficar pois isto deve mudar.", como de facto mudou. Fomos felizes porque depois comprámos as nossas casas. Hoje, praticamente todos os portugueses têm casa própria, quer em Montreal, quer em Toronto ou em Vancouver. Fomos felizes e tivemos os nossos filhos. Eu, em S. Miguel, ao fazer o exame da quarta classe aos 12 anos disse ao meu pai que queria ir para o Liceu. Este respondeu que não porque teria de comprar o passe para a camioneta para eu ir para a escola, etc., e que não havia possibilidades para tal. Vim para o Canadá. Tenho uma filha e um filho que são contables (contabilista) e que tiveram a oportunidade de estudar na universidade, o que não tive na nossa terra.

Luís (Aluno): Como é que os canadianos os acolheram?

Pioneiro Afonso Tavares: Aquando da nossa chegada a Halifax, ficamos logo com uma boa impressão. Estava lá muita gente à nossa espera, muitas freiras, padres, pessoal do governo. Fomos bem recebidos lá. Depois em Montreal, quando os farmeiros (quinteiros) nos foram buscar à Imigração, já foi um pouco mais difícil. (Há que compreender que, na altura, havia muita gente que vinha para o Canadá que não percebia de agricultura. O que o Governo Canadiano queria naquela altura eram homens para trabalhar a terra e foi por esta razão que os açorianos foram para lá.). Começaram a apalpar os nossos braços, a ver se tínhamos calos nas mãos e procuravam os mais fortes primeiro. Enfim, alguns de nós estivemos na Casa da Imigração alguns dias à espera que nos viessem buscar. Os mais pequeninos ficaram para trás, assim como eu que fui talvez o último a sair. Mas tivemos sorte. Estivemos num farm (quinta) onde a esposa era italiana e o patrão francês-canadiano. Trataram-nos muito bem. Era uma família pobre. Só tinham um camião. Não tinham um carro de passeio. Tinham três filhos e a comida era formidável. Pouco tempo depois, foram para lá mais dois portugueses que estavam num farm (quinta) de vacas. (Nos farms de vacas, todos ou quase todos os imigrantes portugueses não eram bem tratados. No nosso farm, as condições eram outras. O trabalho era mais fácil, pois era na terra, serviço que conhecíamos bem. Éramos novos e não houve qualquer dificuldade.). Entretanto, começámos a escrever uns aos outros pois consegui as direcções na Imigração. Como fui dos últimos a sair, tive sempre o cuidado de pedir os endereços aos patrões. Acabaram seis portugueses por trabalhar naquele farm.

Sónia (Aluna): Como se sentiram quando chegaram lá?

Pioneiro Jaime Barbosa: Quando saímos de Lisboa, o inspector Ferreira da Costa disse-nos: "Vocês vão para o Canadá. Uma terra grande, uma terra de futuro, mas não se esqueçam de suas famílias, dos amigos e das pessoas que querem embarcar, no futuro, para o Canadá." Então viemos para o Canadá onde sofremos muito sacrifícios e passámos muito. Mas Graças a Deus, tudo se passou. Éramos novos. Tivemos dias bons e dias ruins mas éramos rapaziada nova. No entanto, agora estamos muito satisfeitos. Temos as nossas casinhas e as nossas vidas. Muito obrigado.

Mariana (Aluna): Gostava de saber quanto tempo levaram a adaptar-se ao clima e à língua daquele país?

Pioneiro Manuel Arruda: Muito bem meus amigos. Isto é uma criançada nova. O que me levou a ir para o Canadá foi que namorava aquela senhora há cinco anos (indicando a esposa) e não era possível arranjar dinheiro para fazer uma casinha. Então disse-lhe: "Vou para o Canadá. Num ano pago a passagem para lá. Noutro ano, juntou o dinheiro para a nossa casinha e no terceiro ano, volto para S. Miguel. Mas não foi bem assim. O primeiro ano foi difícil, muito difícil. Em 1954 fui para Toronto e arranjei lá um trabalho num colégio a lavar loiça e fazer a limpeza do refeitório dos estudantes que frequentavam o colégio. Até lá andavam alguns estudantes americanos. Gostei da vida ali e então escrevi ao meu irmão mais velho. "Agora se quiseres vir, vem, pois agora encontrei o Canadá!". Respondeu que sim e fiz-lhe a carta de chamada. O meu irmão foi, em 1955, o primeiro imigrante a vir com carta de chamada. Ao fim de três anos voltei, mas desta feita trouxe comigo a minha esposa. Depois veio a família toda. A minha família era muito grande. Éramos 15 irmãos e o meu pai faleceu quando eu era miúdo. Hoje sou muito feliz por estar no Canadá.

Prof. J.C. Teixeira: A questão da língua, Sr. Manuel? Como comunicava com os colegas de serviço. Como comprava os produtos quando ia às lojas?

Pioneiro Manuel Arruda: Comecei pelo francês do qual não gostava muito. Contudo, gostava de apreender o inglês. Um tio meu da América foi lá visitar-me e levou-me um livro de inglês tal e qual se fala. Tinha a pergunta em inglês e a resposta em inglês. Comecei a ler aquilo tudo. Aquilo que lia escrevia. Tudo da minha cabeça. Não tive escola lá. Em 1956, já me desenrascava mais ou menos. Já preenchia papeis e income taxes (declaração de imposto de rendimentos) para os que vieram depois de mim. Saí de S. Miguel com a quarta classe mas a minha escola canadiana foi esta. Foi com o convívio com as freiras do colégio que eu comecei a desenvolver o inglês. Hoje sinto-me feliz.