Discurso proferido pela Dra. Berta Cabral, Presidente da Câmara de Ponta Delgada, em 1 de Agosto de 2003 na Casa dos Açores de Toronto por altura da sua visita à comunidade açoriana desta cidade a convite do Fernando Faria, presidente da supra citada colectividade, e Manuel Oliveira Neto, presidente do Centro de Divulgação Açoriana no Canadá para participar nas celebrações do Senhor da Pedra de 2003.

"Intervenção da Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada
na recepção em sua honra promovida pela comunidade açoriana do Canadá
Casa dos Açores de Toronto, 1 de Agosto de 2003

 


Sr. Gerente Consular de Portugal
em Toronto

Sr. Vereador da Cidade de Toronto

Sr. Presidente da Casa dos Açores
de Toronto e do Conselho Mundial
das Casas dos Açores

Sr. Director do Centro
de Divulgação Açoriana no Canadá

Minhas senhoras e meus senhores

Meus queridos amigos

Quero, em primeiro lugar, agradecer-vos, do fundo do meu coração, o extraordinário acolhimento com que nos distingue esta muito estimada comunidade açoriana da bonita cidade de Toronto.

Esta é uma deslocação oficial da Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, mas é também uma visita de saudade da vossa conterrânea Berta Cabral.

Fazemos todos parte de uma família sem fronteiras, que cultiva o sentimento açoriano onde quer que se encontre.

Por isso, atravessamos o Atlântico e continuamos a sentir-nos em casa!

No Canadá, em Toronto, e sobretudo nesta Casa dos Açores, uma presença tão expressiva da nossa comunidade enche-nos a alma e alimenta-nos o espírito.

Estando entre vós, sentimos como é bom ser açoriano.

A vossa experiência de vida e o vosso amor à nossa terra, constituem, para todos nós, um exemplo de persistência e uma lição de patriotismo.

Saíram da vossa ilha para tão longe e há tanto tempo, mas essa ilha, em cada um de vós, continua ainda tão perto no coração e tão presente na memória.

Os açorianos da Diáspora valorizam porventura ainda mais o sentimento da açorianidade do que os próprios açorianos que residem nas ilhas.

Porque ninguém dá mais valor ao que tem do que aquele que deixou de ter.

E então tudo se resume a uma única palavra, tão simples e tão complexa, que os açorianos da Diáspora conhecem melhor do que ninguém - a saudade.

É a saudade que nos torna permanentemente irmanados num triângulo de sentimentos indestrutíveis que se estabeleceu entre os Açores, o Canadá e os Estados Unidos da América.

É a saudade que nos faz contar os anos, os meses e os dias para um reencontro que tarda sempre a chegar, seja nas comunidades ou nas ilhas.

É a saudade que nos reúne nas Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres em Ponta Delgada, nas Festas do Divino Espírito Santo em qualquer ilha dos Açores ou nas Festas do Senhor Bom Jesus da Pedra em Toronto.

Pela saudade atravessamos o Atlântico para levar um abraço de solidariedade fraterna a familiares e amigos de ontem, de hoje e de sempre.

Lá, como cá, reencontramo-nos na cumplicidade da mesma história, da mesma cultura, do mesmo sangue, reunidos em torno de uma crença que nos é comum.

É isso mesmo que agora nos traz a Toronto, para vivermos com os nossos irmãos do Canadá uma das festas maiores da comunidade açoriana, em honra do Senhor da Pedra.

São dias de profundo significado para nós.

Só quem nasceu, como vós, nas nossas pequenas/grandes ilhas dos Açores, é que sabe dar o verdadeiro valor ao sentimento das comunidades açorianas.

Comunidades de gente honrada e trabalhadora, que muito se esforça pelo futuro dos seus filhos e netos e que em muito dignifica o bom nome de Portugal e dos Açores no Novo Mundo.

Comunidades que devem ser respeitadas pelo que são e que não merecem ser politicamente instrumentalizadas por quem quer que seja.

É por isso que nem todas as visitas têm o mesmo valor sentimental…

Os açorianos da Diáspora valem por si e sabem o que querem.

Merecem o nosso carinho, o nosso apoio, o nosso respeito, a nossa admiração.

Sempre que aqui vimos, aprendemos algo mais.

Ficamos sempre mais enriquecidos.

Por isso agradeço a todos os presentes, e a quantos encontraremos nos próximos dias, esta emocionante oportunidade que decorre do amável convite conjunto que me foi dirigido pelo senhor Presidente da Casa dos Açores de Toronto, Fernando Faria, e pelo senhor Director do Centro de Divulgação Açoriana no Canadá, Manuel Oliveira Neto.

Um convite irrecusável e sempre renovado, que só não é correspondido com mais frequência, como eu própria gostaria, por manifesta indisponibilidade de agenda.

A gestão de Ponta Delgada absorve intensamente a nossa razão, mas sempre reserva uma parte especial do nosso coração para este reencontro com os açorianos de Toronto.

Venho receber a força da vossa amizade, mas venho também ajudar-vos a "matar saudades" da nossa terra…

Minhas senhoras e meus senhores
Meus queridos amigos

Trago-vos boas notícias de Ponta Delgada!

A nossa cidade está hoje completamente diferente do que era há dez, há cinco ou há dois anos atrás.

Mesmo nos últimos meses, a sua face urbanística tem vindo a conhecer profundas transformações, e assim continuará proximamente, seja por intervenção da Câmara Municipal, seja também, muito especialmente, por iniciativa dos nossos empresários privados.
Se imaginarmos uma visita-guiada por Ponta Delgada, com início na nova freguesia de Santa Clara, deparamo-nos, desde logo, com o projecto de construção de uma via litoral até à Relva, que a Câmara Municipal lançou a concurso no passado mês de Junho.

Ali vai nascer uma nova frente turística para requalificação da orla marítima numa extensão de 2300 metros, que até já conhece intenções de investimento hoteleiro, com a execução de uma obra de pavimentação prevista para 16 meses e orçada em mais de um milhão de euros.

Mais à frente, junto à igreja paroquial, encontra-se já em fase avançada a obra de construção do Centro Cívico de Santa Clara, para sede dos futuros órgãos autárquicos da nova freguesia e com instalações de apoio à realização de eventos sócio-culturais, numa área total de 1500 metros quadrados, que deverá ficar concluída em Abril, correspondendo a um investimento municipal também de valor superior a um milhão de euros.

No percurso entre Santa Clara e o Campo de S. Francisco, há já uma segunda unidade hoteleira em funcionamento na Rua da Vila Nova, mas há também um grande hotel em construção na Rua de Lisboa.

Na mesma zona, o nosso velhinho Coliseu Micaelense, de tão boas recordações para todos vós, prepara-se para renascer do estado de abandono em que se encontrava, na sequência da sua recente aquisição pela Câmara Municipal de Ponta Delgada.

Iniciaremos em breve uma obra histórica de recuperação e revitalização da maior sala de espectáculos dos Açores, com uma intervenção de quase cinco milhões de euros para um prazo de execução de 540 dias, que respeitará a sua traça original potenciando a sua vocação de edifício de utilização polivalente.

Revitalização é também o objectivo bem sucedido do programa municipal de animação sócio-cultural do Campo de S. Francisco, porventura o espaço público da nossa cidade que é mais querido das comunidades açorianas.

A iniciativa atrai e concentra milhares de pessoas nas "Noites de Verão", de Junho a Setembro, com quiosques de comes-e-bebes e concertos de música popular, numa animação que se prolonga igualmente pela Avenida Infante D. Henrique, nas novas esplanadas que permitem um convívio social em contacto directo com o mar.

Mas há ainda outras novidades nessa zona sul da freguesia da Matriz.
A Câmara Municipal criou uma nova praça pública no Largo da Matriz, entre as Portas da Cidade e a Rua António José de Almeida, devolvendo à livre circulação das pessoas o nosso principal núcleo histórico, com o encerramento do trânsito automóvel nas ruas Hintze Ribeiro e Valverde.

A requalificação da zona histórica de Ponta Delgada já passou igualmente pelo Largo dos Mártires da Pátria, frente ao antigo Liceu Nacional, com a instalação de um jardim público onde agora se situa o novo Centro Municipal de Cultura.

Também no centro da cidade há agora o novo parque de estacionamento em silo-auto da Rua do Castilho, com capacidade para quase meio milhar de viaturas em quatro pisos, e ainda novas unidades hoteleiras no antigo Seminário, na Rua do Colégio, na Rua do Gaspar, na Rua dos Mercadores e no Largo de Camões.

Se prosseguirmos pela avenida litoral, encontraremos igualmente a construção avançada de mais um hotel de grande porte frente à marina e ao complexo de piscinas, na antiga Calheta Pero de Teive.

Já depois da nova sede do Clube Naval de Ponta Delgada, a Câmara Municipal conta iniciar em breve a obra mais emblemática deste mandato, com a construção do prolongamento da avenida até à Canada da Shell, em S. Roque.

Esta empreitada, já adjudicada por três milhões de euros com um prazo de execução de 14 meses, aguarda apenas a aprovação do estudo de impacto ambiental para construir uma via litoral de requalificação da orla marítima que evidencia importantes potencialidades turísticas.

Ali vai nascer uma nova frente de mar, numa extensão de 570 metros, criando uma via de circulação automóvel com duas faixas de rodagem, zonas de estacionamento, uma ciclovia lateral, passeios para peões a Norte e a Sul, espaços verdes e zonas de lazer.

Nas duas fases seguintes, propomo-nos mesmo levar esta obra até à Praia dos Santos e ao Poço Velho, criando assim um novo eixo de acessibilidades turísticas para a zona das praias de S. Roque e Livramento - duas freguesias que nos têm merecido um investimento superior a 10 milhões de euros em habitação social, com a construção de 100 novos fogos para realojamento de famílias carenciadas.

A criação de um outro grande eixo rodoviário está também já em curso a partir da freguesia de S. Pedro, com o projecto de construção da Radial do Pico do Funcho que ligará o lugar da Calheta às freguesias da Fajã de Baixo e Fajã de Cima.

O seu primeiro troço, correspondente ao prolongamento da Avenida D. João III, já acolhe o "Hotel Holiday Inn" e a urbanização "Urbe Oceanus", com cerca de quatro centenas de apartamentos em fase final de construção.

Na mesma zona da Rotunda de S. Gonçalo, ergue-se também a construção de um novo hotel de grande porte, a par de outros complexos habitacionais que modernizam a fisionomia de Ponta Delgada na perspectiva da segunda circular à cidade.

Mais a poente, a urbanização "Arcanjo Lar", junto ao novo Hospital do Divino Espírito Santo, é agora dominada pela construção do maior centro comercial dos Açores - o "Parque Atlântico Shopping Center", a inaugurar em Outubro, com 90 lojas, 12 restaurantes, seis salas de cinema e parque de estacionamento para 1200 viaturas.

Prosseguimos então a nossa "visita guiada" pela nova cidade de Ponta Delgada ao longo do prolongamento da Avenida Antero de Quental, cumprindo, porventura, um dos três circuitos da rede de mini-buses que a Câmara Municipal implementou em Outubro para ligação permanente às zonas de estacionamento da periferia e que já transportou, em apenas nove meses, mais de 600 mil passageiros.

Também aqui está a nascer um novo aldeamento para centenas de novas moradias, a "Urbanização do Paím", que se estenderá até aos "Quatro Cantos" dos Arrifes.

Esta zona de expansão da cidade assume uma especial importância junto à estrada regional da Relva, com o Plano de Pormenor dos Valados a prever a requalificação urbanística de 61 hectares destinados à construção de 350 novos fogos para habitação ao longo de uma alameda central dotada também de zonas verdes, áreas de lazer, estabelecimentos de comércio e serviços e quase três mil lugares de estacionamento.

Um outro plano de interesse empresarial encontra-se também adjudicado para a zona do Caldeirão, destinado à instalação do Parque Industrial de Ponta Delgada numa área superior a 215 hectares, da mesma forma que outros investimentos municipais decorrem igualmente um pouco por todas as 24 freguesias do concelho.

É o caso da modernização das escolas primárias de Santo António, Ajuda da Bretanha, Arrifes, Relva, S. Roque e Feteiras, num esforço global de valor superior a três milhões de euros, ou da beneficiação da rede viária de freguesias rurais como Candelária, Ginetes e Mosteiros.

Mas é na Cidade de Ponta Delgada, na Freguesia de S. José, no Bairro Arcanjo Lar, que concluímos agora a nossa visita imaginária, ainda longe de esgotar as novidades que só uma deslocação presencial poderá testemunhar.

Aqui encontramos um conjunto de arruamentos com designação oficial dedicada às cidades-irmãs de Ponta Delgada: San Leandro, na Califórnia; Fall River, em Massachussets; Newport, em Rhode Island; e Florianópolis, em Santa Catarina.

Também aqui inaugurámos no passado mês de Maio, por ocasião das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a "Rua Cidade de Toronto", para assinalar os 50 anos da emigração açoriana para o Canadá.

A presença da Cidade de Toronto na toponímia de Ponta Delgada constitui um testemunho público e permanente da nossa homenagem sincera às comunidades açorianas do Canadá.

Ponta Delgada não esquece os seus filhos, onde quer que se encontrem, e a todos dedica um carinho especial.

Por isso, nesta cidade de Toronto, mais que partilhar as boas notícias de Ponta Delgada com os nossos irmãos da Diáspora, gostaria de convidar-vos a visitarem a nossa terra, que hoje regista, de facto, um ritmo de desenvolvimento sem precedentes no passado.

Estaremos de braços abertos na expectativa de um reencontro desejado, procurando assim corresponder, tanto quanto possível, à excepcional hospitalidade dos açorianos de Toronto.

Agradeço, uma vez mais, o acolhimento prestado e a todos saúdo na pessoa do senhor Ministro da Cidadania do Governo da Província do Ontário, que muito nos honra com a sua importante presença nesta cerimónia inesquecível.

Quando no próximo domingo participar, ao vosso lado, na grande festa da comunidade açoriana de Toronto, pedirei ao Senhor Bom Jesus da Pedra a Sua melhor bênção para os portugueses que residem no Canadá.

Em meu nome pessoal, e em nome da Câmara Municipal de Ponta Delgada que aqui represento, desejo a cada um de vós as maiores felicidades para o bom futuro das novas gerações luso-canadianas.

Muito obrigada por tudo… e até sempre!"