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A Aviação que nos serve


Há quase oitenta anos – 13 de Maio de 1927 – o aviador italiano, Pinedo portou à Horta, vindo de New York, no hidroavião Santa Maria. Foi um acontecimento notável que serviu de ensaio a outros pilotos aviadores que se seguiram. No entanto vale a pena recordar que, antes de partir da América, Pinedo avisou para estarem preparadas as baías da Horta e, em alternativa, a baía das Lajes do Pico, pois eram as únicas que reuniam condições para uma amerissagem segura. Depois foi o Junker alemão.

Um hidroavião Junker

Mas outras experiências se seguiram. Em 1933 é a vez da esquadrilha do italiano Italo Balbo, composta de 24 hidros, nove dos quais amarinharam no porto da Horta, seguindo os restantes para Ponta Delgada, onde um deles se perdeu,  morrendo o respectivo piloto.

Italo Balbo

(Uma revista ilustrada, da época, chegou a dar o desastre como acontecido na baía da Horta...) De recordar Lindbergh, com a esposa, viajando no Lockheed Sirius (diziam que era, ao que constou, um jipe anfíbio) e que chegou à Horta em 21 de Novembro de 1933.

Lockheed-Sirius do Capitão Lindberg

Pertencia à companhia Pan American, que viria a estabelecer carreiras regulares com os famosos Clipper’s, desde 1939, entre New York e Horta - Lisboa e as mantiveram durante a Segunda Guerra Mundial. Na Horta estabeleceram uma estação de serviço que ali se manteve enquanto os hidros Clipper’s navegaram. Quando passaram a utilizar os aviões terrestres, construíram uma pista em Santa Maria, para onde transferiram os serviços de apoio.Os Clipper’s fizeram história no porto da Horta. As viagens eram regulares para Lisboa, se o tempo  permitia. (1) Ao contrário do que, posteriormente, veio a suceder, os açorianos que desejavam viajar, via aérea, para Lisboa, tinham de deslocar-se à Horta, para tomar o Clipper, na sua viagem semanal. Estava-se em plena Guerra Mundial.

Clipper da PANAM levantando vôo

Chegou a Portugal a notícia de que Hitler pretendia tomar Lisboa. Imediatamente o Governo resolveu transferir-se para os Açores. O primeiro a vir foi o Presidente da República, Óscar Carmona. Mas, para dar ao acontecimento um aspecto natural, resolveram que os Governadores Civis se deslocassem a Lisboa a formalizar o convite para uma “visita” às Ilhas Açorianas. Os Governadores de Ponta Delgada e Angra viajaram até à Horta, numa viagem directa do antigo iate-motor “Ribeirense” e ali tomaram o hidro que os levou à Capital. Feito o convite, que foi aceite, naturalmente, o Presidente, com a esposa, uma filha e marido, este ajudante de campo do Presidente, e um neto, seu secretário, embarcaram no Carvalho Araújo, com os Ministros da Marinha e do Interior.

Ribeirense transportando a imagem
de Nossa Senhora de Fátima em 1947

O itinerário da Visita Presidencial previa o desembarque na Madalena, donde o Presidente e Comitiva seguiriam, depois, para a Horta. O Presidente da Câmara, Manuel Cristiano de Sousa e Simas, esmerara-se para que a Vila apresentasse um aspecto festivo e condigno. Nomeou comissões que tomaram a seu cargo a decoração da Vila. E recordo até que no largo existia um poço para abastecimento público. Francisco Machado Joaquim tomou a seu cargo a “construção” de um cesto florido em cima do bocal, onde um grupo de donzelas, trajando roupas regionais, enviava flores à passagem do cortejo. O Presidente apreciou e dirigiu-lhes palavras de gentil cortesia. Um arco triunfal foi erguido à entrada do largo. Tudo metodicamente preparado.

António Óscar Fragoso Carmona, Presidente da República

Até os Paços do Concelho haviam sido excelentemente decorados com ricas mobílias orientais. Mas, o imprevisto aconteceu. Soube-se que o Presidente condecorava o Presidente da Câmara que o recebia. Daí o alterar o itinerário da visita... E Carmona foi desembarcar no Cais do Pico, que à pressa se preparou durante a véspera e noite. Ali foi condecorado o Presidente Celestino Freitas. Por terra veio o General Carmona para a Madalena, afim de embarcar para a Horta. O Comandante da Legião Portuguesa, Capitão João Costa, que estava de mal com o Governador, o Capitão Moreira de Carvalho, trouxe da Horta para a Madalena o corpo de legionários e postou-o junto dos Paços do Concelho. À Chegada do Presidente ao Cais de embarque, informou-o de que a guarda de honra estava em frente à Câmara Municipal. O Chefe do Protocolo interveio logo dizendo que não era protocolar o Presidente deslocar-se ao local mas o General Carmona respondeu que iria, e foi. Passou revista ao Batalhão legionário e, depois, o Comandante João Costa convidou-o a entrar nos Paços do Concelho, ao que novamente se opôs o Protocolo. Carmona aceitou o convite e subiu até ao Gabinete onde lhe foram entregues e à comitiva, as ofertas previamente preparadas. Só não houve condecoração do Presidente do Município...A seguir o Presidente tomou lugar na tribuna, que foi levantada a meio do Largo, para assistir à passagem do cortejo de rosquilhas do Espírito Santo e depois encaminhou-se para o Cais para embarcar.

Mas a história não fica por aqui. O resto virá depois.

1) Neste escrito servi-me, com a devida vénia, de “Apontamentos para a História da Aviação nos Açores”, por Carlos Ramos da Silveira e Fernando Faria – 1985.

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