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Crónica de Março


Março é um mês de gratas recordações. Sempre que volto um olhar retrospectivo para o passado, o mês de São José vem-me ao pensamento, com um misto de saudade e de suaves lembranças.

Foi no mês de Março de 1932. O Curso de Filosofia (ou propedêutica como era classificado) celebrava anualmente a festa do seu Patrono, no dia 7 daquele mês. Nesse ano era um curso numeroso e daí a razão de promover uma festa com grande solenidade e esplendor.

Além da Missa solene na Capela privada, realizou-se um sarau músico -literário nele tomando parte o orfeão que apresentou, sob a regência do Maestro Pe. José de Ávila, um escolhido reportório quase só de música clássica. (nesse sarau estriou o Orfeão a “Canção Russa”, com letra de Serafim Chaves, que veio a ter uma grande expansão nos Açores).

O salão estava repleto, sobressaindo as altas individualidades angrenses, que nunca deixavam de assistir anualmente a tão importante evento cultural. Presente também o então Alto-comissário dos Açores que, de pé, aplaudiu alguns números do, Orfeão.

Todos ficaram bastante satisfeitos com o brilhante acontecimento que marcou na exigente assistência angrense um dos mais importantes serões literários daqueles que então se realizavam na chamada “Atenas Açoriana”.

Esperavam os promotores da solenidade, que o Diário “A União”, cujo chefe da Redacção era um dos professores do curso, publicasse notícia condizente com aquela noite de arte. Mas isso não aconteceu. Somente uma pequena notícia assinalou a solenidade.

Angra, porém, não esqueceu, sobretudo, a exibição do Orfeão que poucos anos antes, em 1928, se havia deslocado a Ponta Delgada em jornada artística, merecendo da imprensa micaelense muitas páginas de minuciosas e laudatórias reportagens.

Chegaram as férias da Páscoa e, como habitualmente, veio aos Açores uma “embaixada” de estudantes de Coimbra. Naquele ano foi o terceiro ano médico que trazia um grupo de teatro com a peça “O Nunes quer casar”. No regresso da Horta anunciaram nova exibição no Teatro Angrense mas o público, que já assistira à primeira exibição, não correspondeu “á chamada”. A bilheteira quase não vendera bilhetes para a segunda exibição e os estudantes estavam aflitos. Alguém lembrou o Orfeão do Seminário. Foi uma luz de esperança. Os dirigentes do grupo vão ao Vice-Reitor, (pessoa de acanhada visão) que nega autorização para a deslocação do Orfeão ao vizinho Teatro. Desenvolveram-se insistências várias, os “grandes” da cidade apoiaram a petição e, por fim, houve que ceder. O Orfeão foi ao Teatro. Uma noite de arte e um encanto para os seus componentes que, apesar de vizinhos, nunca haviam pisado aquela sala. A exibição foi um êxito e o agradecimento dos estudantes manifestou-se exuberantemente e de formas diversas.

Isto para corroborar o êxito da festa dos alunos de Filosofia que, como disse, quase ficou esquecido em “A União”, pois a “Pátria” do tempo era orientada por gentes de outras ideologias…

E foi por isso que os promotores da Festa resolveram enviar notícias circunstanciadas a outros jornais do Arquipélago (não se falava ainda em Região) e até para a revista “Renascença”, de Lisboa.

Coube-me enviar uma notícia para “O Dever”, que então se publicava na Calheta de São Jorge, mas cujo Fundador e Director paroquiava na freguesia da Candelária desta Ilha do Pico. E assim aconteceu. A notícia seguiu, bem ou mal, como me foi possível urdi-la. Passados quinze dias (as ligações marítimas só eram feitas pelos barcos da Insulana, duas vezes por mês,) recebi a resposta. Depois de algumas observações, não tivesse o Pe. Xavier Madruga sido Professor de Português, informava-me que “o artigo tinha seguido para São Jorge, para publicação”. Foi o quanto bastou. E de facto o meu primeiro escrito para a Imprensa saiu em “O Dever” no dia 19 de Abril de 1932. Já lá vão setenta e cinco (75) anos!

Depois, foi um rabiscar contínuo, em “O Dever”, no “Correio da Horta”, já de saudosa memória, e em tantos outros mais.

É por isso que este mês de Março me trás, todos os anos, recordações simpáticas de uma longa vida que o Senhor me há conservado por tantos anos.

E por aqui fica esta sensaborona crónica de hoje…

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