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DAQUI A 20 ANOS HÁ UM JOVEM PARA DOIS IDOSOS

Poderemos pensar, que temos os nossos próprios problemas a resolver e isso é uma realidade que nos aflige, no dia a dia, a muitos de nós, na nossa vivência intrínseca, ou seja, dentro do nosso próprio núcleo familiar, dentro da nossa pequena comunidade paroquial, dentro de um círculo restrito de amigos… Mas, a realidade social que nos interpela, a realidade comunitária que nos deve preocupar e talvez até que nos cria insónias, aos exponencialmente mais despertos para estes fenómenos sociais… é muito mais exigente, é muito mais sofrida… e adianto já uma nota para reflexão: daqui a vinte anos, no nosso país, sim em Portugal, caro ouvinte, o rácio populacional será de dois idosos para um adolescente, ou seja uma relação directa pura e simples do dobro de idosos em relação aos jovens á procura de formação educacional e ou de afirmação socioprofissional.
Que fazer? Deixar andar? Deixar à conta dos governos a resolução desse, diria eu, pseudo-problema, encarado por muitos, como de toda a sociedade e que nada tenho a ver com ele? Não.

Idosos da Santa Casa da Misericórdia de São Roque

Talvez seria assim há anos, há muitos anos, quando a solidariedade social não era encarada como um dever de cidadania, mas como uma questão quase só de família (envergonhadamente) ou de vizinhança (para que não se falasse mal)…
Hoje o problema é realmente nosso, de todos nós, daqueles que estimam o bem-estar social dos seus progenitores ou de outros seus familiares ascendentes, e não só… Não mais nos podemos demitir de ajudar quem está ao nosso lado, mas em vida, não com lágrimas de hipocrisia, vertidas em mais ou menos faustosos e floridos velórios ou funerais, depois... Não. Em vida e em vida de acompanhamento presencial e não virtual. Dando condições a esses nossos idosos, de acederem a todos os direitos de cidadania nos seus últimos dias de vida, porque foram elementos activos de uma comunidade, comunidade essa que nos transmitiu valores de urbanidade e civilidade, ao fim e ao cabo, aqueles valores civilizacionais de que hoje temos o privilégio de desfrutar. Sim, foram todos eles, os nossos idosos, uns mais que outros, mas todos eles, que nos legaram a educação, a tradição e os usos e costumes que, com tanto orgulho, apelidamos : VIVER À MODA DO PICO. Não é assim?
Então, custa muito, lançarmos como desafio aos nossos filhos, que aquele que normalmente depois de morrer, e a quem chamamos de nosso ente querido, sim o idoso, até aos últimos dias da sua vida, enquanto humanamente e familiarmente puder ser enquadrável, deverá ter como último direito, viver na sua casa, que sempre foi o seu lar, na ambiência de toda uma vida de trabalho que, a quase todos nós, proporcionou alguns bens em herança? É exigir assim tanto? …
Mas a sociedade hoje é diferente. É verdade.

Idosos de São Roque a quando da visita à Assembleia Regional dos Açores

A mulher hoje, felizmente para todas elas, já não é só a dona-de-casa, e dignamente ocupa o seu próprio espaço fora-de-casa, no mercado do emprego e do trabalho. É verdade.
Então procuremos outras formas sociais de ajuda.
O idoso, autónomo, já pode permanecer durante o dia e talvez mais, no aconchego do seu lar, embora com alguma solidão, é verdade, mas tendo hoje acesso a meios técnicos, em que, à simples distância de vinte segundos, tempo que leva um botão a ser accionado e uma assistente a atendê-lo, vinte e quatro horas e 365 dias por ano, ou ainda, em caso de perca ocasional ou emocional da fala, esse mesmo idoso é imediatamente identificado com todos os dados histórico-clínicos e familiares ou de vizinhança que a sua ficha contém, podendo igualmente alguém ser avisado de que necessita de ajuda ou de uma simples conversa… que lhe interrompa momentos de solidão… Enfim, esta é apenas uma pista que poderá servir para protelar a entrada de um idoso, durante alguns anos, na realidade dum Lar, com todos os efectivos benefícios que para muitos deles lá existem, mas também, não devemos escamotear esta outra realidade, com uma enorme carga de solidão que OUTROS TANTOS MAIS, também lá encontram e que a excelência dos funcionários de apoio, não conseguem superar, quando muito apenas minorar…
Apoio domiciliário cada vez mais abrangente, mas idosos nas suas casas, até aos últimos dias das suas vidas, esse sim é o apoio social que a sociedade geral e a família em particular lhes deve procurar, por todos os meios, proporcionar. Aqui vos deixo, caros ouvintes, este desafio interpelando cruamente a nossa comunidade cristã e não só…

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