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A Instrução


Hoje tem classificações diferentes. Mas são tantas que nem sei qual deva escolher para título desta nota. Volto pois ao início.

Em 1912 – quase um século é decorrido – o professor Manuel Emílio Thomas da Silveira, publicou um folheto, que intitulou “Pela Instrução”, onde publica “DUAS PALAVRAS que o autor pretendia recitar na sala dos paços municipais na segunda reunião do professorado primário do concelho da Horta, que não se realizou e devia ter lugar no dia 11 de Junho de 1911, para as conferências publicas de propaganda de instrução primaria e educação cívica, superiormente recomendada à sub-inspecção escolar deste círculo”.

Já então a Instrução andava em bolandas por esse Portugal fora sem que os poderes públicos encontrassem o caminho certo para a sua organização. E, decorrido um século, parece que o mesmo acontece.

Abrem e encerram-se escolas. Fazem-se edifícios que se abandonam e projectam-se novos sem que haja um planeamento acertado, correndo-se o risco de, decorridos meia dúzia de anos, já não servir por mal localizado, por ausência de alunos ou  alteração dos .programas.

Razão tinha o professor Manuel Emílio quando escrevia:
          “Há  largos anos  já que a instrução pública, e especialmente o ensino primário, tem atraído a atenção dos poderes públicos, já por iniciativa dos próprios governos, já por efeito da propaganda persistente e bem orientada de vários pedagogistas ilustres e, nos últimos tempos, da Liga Nacional de Instrução e seus núcleos locais disseminados pelo pais, de modo que este tem sido dotado de grande número de escolas e cursos nocturnos que vem prestando um importante serviço à educação po9pular e por tanto à nossa própria civilização, - além de outras providências oficiais sobre o assunto

E citando António Feliciano Castilho, mestre da Língua, diz:” Um progresso essencial falta contudo entre tantos progressos; um progresso  que a todos  os outros duplicaria alma e criaria asas, é o ensino elementar gratuito e obrigatório.”

Na sua dissertação, diz ainda o professor Manuel Emílio: “Mas não basta só ensinar, deve-se paralelamente educar – moralizando, disciplinando. – Para fazer um cidadão principiemos por educar um homem, disse um grande filósofo, e acrescentou: ‘ Instruir e educar a infância nos grandes princípios da religião e liberdade, da justiça e beneficência, é lançar à terra tesouros inexauríveis, de que há-de brotar a felicidade social. Não instruamos só, que é um abismo. Instruamos educando, que é a frondosa árvore do Bem”

Talvez fosse conveniente ter hoje presentes estes conceitos de um professor de há cem anos. O vandalismo que se encontra em tantos estabelecimentos de ensino e de que a Comunicação Social nos dá notícia, bem merecia que os poderes públicos dessem às escolas e respectivos professores meios capazes de proporcionar uma educação correcta aos seus discípulos. As palavras de admoestação, que hoje são permitidas, como diz o povo, “entram por um ouvido e saeam pelo outro.” Infelizmente!

Mas isso já acontecia em 1911. Estranhando a indisciplina que se verificava na época, diz o professor Manuel Emílio Thomas da Silveira, a terminar o seu trabalho: “É com bastante estranheza que venho observando intimamente este facto altamente censurável na moderna mocidade…”. E depois: “Os que encaram a educação pelo seu verdadeiro prisma  e deploram por isso os deprimentes efeitos morais da indisciplina escolar de hoje, têm a confrontar-lhes a alma, numa doce suavidade, os nobres e edificantes exemplos, que a história nos fornece, do respeito que em todos os tempos todos os povos têm prestado aos professores e educadores da mocidade.”

E hoje o que acontece? A Instrução e a Educação propriamente ditas?

Que saudades da Cartilha de João de Deus! E da Gramática, da História, da Geografia, das Ciências e até da Aritmética ?! Outros tempos, dirão.

Pois que assim seja. Mas a Instrução e a Educação não vão melhores…

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