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A Romaria penitencial à Senhora dos Milagres no Cachorro


No mesmo dia em que se celebra festivamente a Padroeira da Candelária, Nª. Sª. das Candeias, as freguesias de Santa Luzia e das Bandeiras, promovem a secular romaria penitencial desde as suas igrejas paroquiais até à Ermida do Cachorro, dedicada a Nª. Sª. dos Milagres. Esta Ermida data de 1682 alguns anos antes das últimas erupções vulcânicas nesta ilha que aqui recordo:
1718 - Erupção em Santa Luzia do Pico - A 1 de Fevereiro, pelas 6 da madrugada, ouviu-se uma "espantosa trovoada que encheu de terror os hortenses" e iniciou-se uma erupção vulcânica entre as Bandeiras e Santa Luzia, surgindo torrentes de lava que rapidamente formaram um extenso mistério (o Mistério de Santa Luzia) que penetrou mar adentro. 

Assistencia à Missa - à chuva

Ainda em 1718 — Erupções em São Mateus e São João do Pico - Na madrugada do dia 2 de Fevereiro, com enormes estrondos acompanhados de violentos sismos deu-se uma explosão no lugar da Bragada, entre São Mateus e São João. Começou logo "o fogo a correr em caudalosas ribeiras para o mar, na distância de duas léguas, formando um vasto mistério". No dia 11 de Fevereiro rebentou no mar, à distância de 50 braças da terra, defronte da igreja de São João, emitindo grandes pedras ardentes que devastaram aquela freguesia. A 24 daquele mês, uma nova erupção iniciou-se no caminho que liga São João ao Cais do Pico em lugar sobranceiro à freguesia de São João. As erupções cessaram a 15 de Agosto, recomeçando em Setembro. A actividade terminou em princípios de Novembro. 

Celebração da Missa

1720 — Erupção no Soldão, Lajes do Pico - A 10 de Julho iniciou-se por "dezasseis bocas nas faldas do Pico, por detrás do cabeço do Soldão" uma erupção que "inundou de fogo" perto de uma légua quadrada, consumindo terras e vinhedos e destruindo 30 casas "cujos moradores salvaram suas vidas fugindo precipitadamente". A erupção foi precedida de numerosos sismos e perdurou até Dezembro daquele ano.

Romaria vinda das Bandeiras

Ora foi a 2 de Fevereiro em angustia sofrida e desnorte completo, pois é-nos impossível sequer imaginar as condições de vida, de comunicações ou de primeiros socorros que esses nossos concidadãos de há quase trezentos anos, teriam ao seu dispor, ei-los com fervorosa fé cristã, a abeirarem-se das suas igrejas paroquiais e em romaria, levando em andor o senhor Crucificado, rumaram até à beira-costa em busca de algum conforto e consolação espiritual… entregando-se ao divino amparo da Senhora dos Milagres. Que mais poderiam fazer? Quem mais lhes acudiria? Que tremenda tragédia de vida terão sido esses dias, meses e anos até ao fim de 1720…

Romaria vinda de Santa Luzia

Foi com esse espírito de honrar as suas memórias que durante as últimas décadas o amigo Comendador P. José Idalmiro, falecido em 2008, movimentou e motivou os cristãos destas comunidades a manterem viva esta peregrinação que culmina com missa acompanhada a cânticos pelas capelas das duas freguesias e pregação; no ano passado foi presidida pelo Ouvidor Padre Marco Martinho e este ano já teve a presidir o novo pároco destas freguesias Reverendo Padre Zulmiro Sarmento, perante várias dezenas de fiéis, que arrostaram com a chuva impiedosa até ao fim da celebração, já que muitos, diria a maioria, só conseguiram participar na celebração litúrgica fora de portas do pequeno templo. Mas digo-vos caros ouvintes que é das manifestações de fé mais marcantes e menos exteriorizadas a que tenho assistido a par de outra que se realiza na Ermida de Santa Catarina, nas Lajes, qualquer uma delas sempre no seu dia próprio o que, como é bom de ver, acontece quase sempre em dia de trabalho. Eram muitos os fieis de outras paróquias próximas e mesmo do sul da ilha. Poucos jovens, concerteza impossibilitados pelos seus afazeres escolares ou laborais, mas se é certo que daqui a vinte anos haverá na população portuguesa um jovem para dois idosos, talvez também seja uma certeza de que esses idosos continuaram a acorrer à Senhora dos Milagres, no Cachorro, em 2 de Fevereiro, honrando assim a memória dos nossos antepassados que nos legaram esta ilha que hoje e apesar de todos os condicionalismos que temos de suplantar, possui excelentes atributos, que a levam a ser considerada num patamar superior, a nível da qualidade de vida ambiental, que proporciona a quem aqui teima em continuar a viver…

 

 

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