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DO CANADÁ AO BRASIL POR TERRA - DIA 16


DICOTOMIAS DO DESENVOLVIMENTO HABITACIONAL
NUM PAÍS DE DOIS MILHÕES (E TROCOS…) DE HABITANTES


Vasco Oswaldo Santos (Texto e fotos)
José Ilídio Ferreira (Fotos)
Adiaspora.com
António Perinú (Texto e Fotos)
Sol Português


Cidade do Panamá, Panamá, 20 de Outubro – É importante que os nossos leitores se vão apercebendo que os relatos que enviámos são de uma fidelidade absoluta quanto ao que vimos desenrolar em frente aos nossos olhos. Esta é uma reportagem a frio, que não dá espaço para a tendência natural de “embelezar” a prosa.

Como jornalistas, as expectativas eram de haver tempo para visitas a museus, lugares de interesse históricos agregados aos países atravessados. As contingências das datas e do mau tempo não nos foram favoráveis. Logo, o aproveitar desta sexta-feira mais ou menos liberta de encargos forçados para escrever algo diferente do simples diário de viagem.

A rápida visita efectuada pela equipa de Adiaspora.com em Setembro passado deu-nos a oportunidade de escrever um pouco sobre o Panamá. Contudo, surge hoje o ensejo de um pequeno apontamento mais “chorudo” sobre a economia do país.
Falou-se já do surto expansionista da construção na capital panamenha, algo que parece exagerado em relação à densidade populacional urbana e, muito mais significativo, nível de vida que permita a ocupação de tais complexos habitacionais. Falando com transparência, estes edifícios não foram concebidos para ser comprados e/ou alugados pelos locais.


Daí o interesse em procurar saber se o “boom” de construção está virado apenas para o mercado estrangeiro, daqueles que querem investir os seus capitais ou tempo de reforma numa cidade agradável, de bom clima, relativamente segura e próspera.


“Square Feet – Panama” um jornal bilingue especilizado em imobiliário, pareceu-nos fornecer algumas respostas, indicando em grandes parangonas o grande interesse dos promotores espanhóis nesta parte do Mundo. E exageram até na prosa, ao classificarem de “gloriosa” a análise empreendida pela ACOBIR, a Associação Panamiana de Corretores e Promotores de Imobiliário, a que chamam – muito apropriadamente – de bienes raíces ou bens de raíz.

Para além de demonstrar o articulista se haver o Panamá convertido, hoje em dia, num dos destinos mais procurados para a promoção e investimento imobiliário, adiciona-lhe o efeito dinamizador que irá gerar a colossal obra de ampliação – na verdade, duplicação – do Canal do Panamá, na qual se prevê o investimento de cerca de 6.000 biliões de dólares americanos. Factores que parece terem atraído uma multitude de empresas espanholas a este pequeno país com perspectivas de grandes oportunidades, enquanto que outras tantas começam a emergir.
As autoridades governamentais confirmam este poderoso interesse dos investidores espanhóis, como explica um alto funcionário da ACOBIR, afirmando que “todas as semanas recebo dois ou três grupos espanhóis que chegam para efectuar prospecções de mercado e mantenho ainda uma meia dúzia de reuniões por mês para a valorização de projectos concretos”.

Sabe-se que todos os dias desembarcam no aeroporto internacional de Tocumén, grupos de investidores oriundos de Espanha, ansiosos de fazer bons negócios. E com eles, chegam também representantes de empresas da velha Europa, actualmente muito bem cotadas, como, algumas já com negócios aqui bem enraízados, por exemplo, Grupo Mall, Grupo Olloqui, Grupo Gestar, Grupo Rio, Crevia y Quat, entre tantas outras.
Um outro investidor de gabarito, indica ainda o articulista, Carlos Malo de Medina, presidente da Sigma Dos, prevê edificar vários milhares de vivendas nos arredores da Cidade do Panamá. E em sociedade com vultos de renome como a Hercesa e a FCC. E vai mesmo ao ponto de citar “fontes fidedignas” no que respeita ao envolvimento escondido da Hercesa Internacional que, neste momento, se encontra a dar os últimos toques nos seus projectos para a América Latina. Por isso, alguns analistas explicam que as vendas comparativas, com respeito a Espanha pesam a favor do istmo (outra definição do Panamá).


Demasiado Rápido Este Surto de Construção?


Esta é realmente a pergunta que os analistas menos fogosos e mais realistas querem avançar. Não se estará a edificar demais e em ritmo exagerado? Porque é que estes grandes edifícios se encontram vazios, apesar de prontos? Porque não se vendem mais rápidamente a despeito dos preços convidativos, em termos do valor do mercado internacional?

Na realidade, muitos observadores atentos estão preocupados que esta “febre” de construção no Panamá possa ser demasiado intensiva para que o mercado a possa absorver; tratam-se de preocupações criadas pelo rápido aumento nos preços do imobiliário. E vão um pouco mais longe aventando que a actividade neste diminuto país é ainda maior que a totalidade do mais recente desenvolvimento verificado na área metropolitana de Miami, na Flórida (EUA), uma cidade mais rica, mais cosmopolitana e mais orientada internacionalmente como centro de negócios para a América Latina.
Os cerca de 11.000 apartamentos que se espera ver completados e inseridos no mercado da capital panamiana, nos próximos cinco anos (e esse número poderá vir a ser muito mais elevado, face aos projectos recentemente anunciados) é sensivelmente idêntico ao número dos que foram já edificados em Miami, nos últimos 10 anos.
Com tantos inventários a serem “despejados” no mercado, o aumento do nível de preços – correntemente a serem empurrados pela especulação, estes pessimistas acreditam que os investidores podem ser vulneráveis a uma queda, caso a procura aventada não se venha a materializar.


O ritmo de crescimento do mercado residencial é também causa para alarme de certos analistas e cria desafios ao governo do Panamá. Primeiramente – e em especial – quanto a melhoria das infraestruturas da capital que lhe possam permitir enfrentar as necessidades requeridas por um acréscimo adicional de edifícios na linha dos arranha-céus.
Depois, fazem-se ouvir, de novo, os optimistas: a abertura do segundo canal, a despeito da mão-de-obra básica ser local, todas as empresas de materiais, de mão-de-obra especializada, técnicos, engenheiros, pontoneiros, ambientalistas, etc, será oriundo do estrangeiro. Neste caso, prevê-se que a população urbana da Cidade do Panamá duplique para o dobro (4 milhões) daquela que, hoje em dia, é a de todo o território nacional!
E depois, à boca pequena, houve quem já nos confiasse muito seriamente todo este desenvolvimento ser causado por “lavagem” de capitais da droga que por aqui circula para ser distribuída e enviada, mormente, para ser consumida nos Estados Unidos e outros países desenvolvidos…

Autocarros Escolares Norte-americanos Passam a Ser Aqui
Os “Diablos Rojos” dos Transportes Públicos


Esta presença dos autocarros escolares amarelos, tão populares nas estradas do Canadá e dos Estados Unidos, quando nestes dois países chegam ao final da sua vida útil e rentável, são enviados para os países da América Latina e Central, onde vão prover o sistema de transportes públicos citadinos e de longo curso. A sua transformação é fundamentalmente na pintura, que passa do amarelo alaranjado que conhecemos para outras formas decorativas nada uniformes pois cada proprietário os manda pintar como pode, tanto em termos de decoração como do custo da mesma, feita por autênticos artistas do mais fino “graffiti” que, em vez de decorar muros, vai inteirinho para os velhos autocarros! Vimo-los no México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica, profusamente pintalgados e com slogans e imagens religiosas, futebolisticas e até filosóficas.


Mas, como funciona isto? Bom, só podemos falar do que aprendemos no Panamá. Aparentemente, estes autocarros pertencem a pessoas individuais que ocupam lugares de destaque na vida panamiana, até deputados! Os seus condutores ganham uma miséria – na ordem de três a quatro dólares diários, por turno e são individualmente destacados para as diversas carreiras citadinas, onde se mantém fixos. Só que quem tem mais poder, melhores carreiras consegue. Ou seja, o velho “manda quem pode”…

A extinção do “Diablo Rojo”?


Posto isto e visto que… como aparece de repente uma parangona jornalística a prognosticar o fim destes “diabos vermelhos”? Será que estão ameaçados como o Benfica de alguns de nós? Bom… a “garganta” das torres de cristal e aço reluzentes, que ladeiam a Calle 50 da Cidade do Panamá, seriam uma réplica convincente do centro da Cidade de Miami – que serve de termos comparativos e modelo para tudo o que de urbano aqui se discute. Isto até que um exército de velhos autocarros escolares americanos, ostentando pinturas murais, do tejadilho ao rodado, cobertos de luzes coloridas e intermitentes a circularem tronitruantes de ruído e fumos negros. Quase dois mil deles rodam pela capital como já se disse ostentando ícones religiosos, heróis da cultura “pop” e estribilhos de “filósofos de esquina”.

Os “Diabos Vermelhos” não só passeiam as suas obras de arte, como constituem também a coluna vertebral de um sistema de transporte público peculiarmente obsoleto numa capital cada vez mais moderna. E ainda que um novo sistema de transporte público se encontre pronto a substituir esta anomalía no próximo ano, tal forma única de expressão artística urbana e ambulante, junto dos artistas que a criam, pode vir a desaparecer em breve das ruas e avenidas da capital do Panamá.
Historiando um pouco, o primeiro embrião do transporte personalizado no Panamá data de 1911 quando os primitivos autocarros de madeira, conhecidos como “chivas” eram “baptizados” com os apelidos e alcunhas dos seus donos, pintados na carroçaria, uma prática que foi proíbida pelas autoridades, segundo o jornal turístico “Welcome to City Tour”.
Antes do final da década de sessenta, do século passado, os autocarros escolares dos Estados Unidos apareceram por aqui e os seus donos individuais quiseram enfeitar condignamente os seus estimados “burros de trabajo” pelas ruas.
Mas acaba por ser um sociólogo urbano e escritor panamiamo, não identificado pelo autor do artigo, que melhor explica que “esta cidade expressa a sua cultura e fé por meios como a pintura dos autocarros, muito semelhante ao modo como a pintura de murais se pratica noutras cidades do mundo, excepto que estes são móveis. Mais, a diferença da rica tradição dos transportadores de galinhas, festivais populares e artesanato patentes no interior do país, existem muito poucos cenários para a cultura popular, nascida aqui nas ruas,” E continua o distinto desconhecido: “Sililarmente aos artistas do “graffiti”, em cidades à volta do Mundo, estes pintores de autocarros não são considerados como ‘artistas verdadeiros’ pela comunidade artística panamiana, bem pelo contrário, são vistos como criadores de arte clandestina.”

“Ironicamente, muito mais espectadores são expostos a esta arte que a arte que nunca irão ver nos museus”, afirma o dono de uma estação de gasolina e garagem desempanadora, perto do aeroporto internacional de Tocumén.
Uma pequena falange de pintores – uns adolescentes com talento artístico arrancado directamente da rua, trabalham cobrindo de cores de néon uma intrinçada pintura mural. O pintor-chefe, Rolando de seu nome, trabalha afincadamente num autocarro que leva cerca de um mês a completar. Este homem é um dos menos de dez artistas no Panamá que ganham um sustento estável no país, transformando autocarros escolares norte-americanos para utilização nos transportes colectivos.

Quando inquirimos que tipo de transporte urbano irá substituir os “diabos vermelhos” e toda a lista de profissões de apoio a sua existência, ninguém parece ter uma resposta certa. Mas o que dizem é que a única alternativa para tal reside num monocarril elevado que, ä semelhança da extensão do “tube” britânico, na londrina Canary Pier, seria a única apropriada para prover as necessidades do trânsito e do tipo de tráfego da capital panamiana.

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