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DO CANADÁ AO BRASIL POR TERRA - DIA 18

A ODISSEIA DE UM TRANSMONTANO REBELDE
A ‘INUNDAR’ O PANAMÁ DE VINHOS E AZEITES PORTUGAS


Vasco Oswaldo Santos (Texto e fotos)
José Ilídio Ferreira (Fotos)
Adiaspora.com
António Perinú (Texto e Fotos)
Sol Português

Cidade do Panamá, Panamá, 22 de Outubro – Onde quer que se viaje, há sempre um portugués desconhecido que espera por nós. Neste caso não era desconhecido de todo, que um jornal de Lisboa, dedicado à Emigração, o “Mundo Português”, já o havia entrevistado aproveitando uma desloção do António Dos Santos a uma feira alimentar à capital portuguesa.
Haviamo-lo conhecido no Restaurante Casa Portugal, um dos vários a que está associado, e onde sua esposa colabora. Disponibilizou-se para se encontrar com a equipa de Adiaspora/Sol Português/Voice e ainda fez o favor de nos vir buscar ao hotel. Chovia torrencialmente e trovejava, para não variar…
Achamos que, jornalisticamente, isto merecía uma entrevista. E foi o que aconteceu. Daí que o ‘intro’ desta venha a seguir em itálico, que o título do dia é mais que apropriado e não precisa que lhe toquemos. Aqui vai:
Nasceu em Vale de Janeiro, Vinhais, Bragança, a 20 de Março de 1961. Quando tinha 5 anos, o António dos Santos, de seu nome, ajudou o pai a cultivar uma vinha e isso fez lhe nascer o amor pelas coisas do néctar de Baco. Coisa que só deu por isso mais tarde. O ambiente da casa dos pais a isso o conduziu naturalmente: cultivo da uva, vindima, pisar artesanal. Menino rebelde, saiu de casa aos 14 anos e foi para Madrid trabalhar num restaurante onde já trabalhava um irmão. Dois anos mais tarde os proprietários resolvem retirar-se e alugam-lhe o negócio.
Quando chega a altura do serviço militar, abandona o negócio e o apartamento, rumando ao Porto. Na altura acalentava realmente o sonho de ser militar. Mas a sua passagem pelas fileiras foi efémera: 22 dias, que havia excedentes. Desolado escreveu a uma irmã que tinha no Panamá a contar-lhe o sucedido. E que não tinha restaurante nem casa em Madrid. É nessa altura que surge um convite para vir passar férias com a mana. Vem por 30 dias que se tornaram em 22 anos!

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António dos Santos e o Director José Ferreira

Adiaspora/Sol Portugues/Voice – Então o que aconteceu ao fim dos 30 dias de férias?
Antonio dos Santos – A minha irmã convidou-me a ficar por aquí. As alternativas não eram muitas e eu pensei “porque não?”

António dos Santos mostra vinho raro - e carote.... - Azeite de Fátima que se vende rapidinho!

AD/SP/V – Certo. Mas acabas por enveredar pela restauração antes dos vinhos?
AS – Através de conhecimentos dos meus familiares, fui parar a Chiriqui, mais propriamente a cidade de David, a tal que foi fundada por um sefardita português, como já vos contei. Era um hotel e deram-me a posição de sub-gerente. O Panamá é um pais pequeno, toda a gente se conhece e daí a minha sorte. Por lá fiquei 5 anos. Ao fim desse tempo a cidade tornou-se para mim ainda mais pequena. Decidi mudar de ares. Voltei à capital e estive seis meses no restaurante do aeroporto internacional de Tucomen, numa sociedade tripartida comigo, um espanhol e a própria administração aeroportuária. Mas as coisas não correram muito de feição e fui então trabalhar como chefe de compras no Restaurante 1985-Chalet Suizo. Ai pensei: se se compram para aqui sempre as mesmas poucas marcas de vinhos, porque não importá-los?
AD/SP/V – E importaste de Portugal?
AS – Ainda não. Importei 60 caixas de vinho italiano da casa Fratelli Giaccosa (Barolo, Barbarico e Dolcetto de Alba. Que se venderam em três semanas.
AD/SP/V – Mas sabemos que tens interesses agora em mais restaurantes…
AS – Sim, dois de que sou dono e 5 em que estou associado. Um dos quais português, como sabeis, a Casa Portugal no Casco Viejo. Mas penso abrir um brasileiro e outro espanhol sem qualquer sociedade. E até outro português, com o nome de Casa Lusitana.

O empresário e seus tesouros - Exaltando a excelência do vinagre balsâmico.

AD/SP/V – E onde entram os vinhos de Portugal?
AS – Bom, aqui só se vendia o Mateus Rosé e o Dão. Nada mais. Ora um dia, hospeda-se no Hotel Panamá um senhor chamado Bernardino Acácio, proprietário das Caves Acácio na cidade do Porto. Ele inquiriu sobre representações ao gerente do hotel… que era meu amigo! Aí lhe foi dito que eu seria a pessoa indicada com quem falar. E foi apresentar-mo ao Restaurante Pomodoro, onde eu já me encontrava na altura. Um restaurante que se insere no complexo do Apartotel Las Vegas. Este senhor vinha cobrar ao Panamá um dívida antiga. Fiz-lhe saber que estava a falar com a pessoa indicada. Bernardino Acácio prometeu mandar-me umas garrafas para provar aqui. Tempos depois, recebo para cima de 100 caixas de vinho “para amostra”… Foi o início bafejado de uma relação comercial - e de amizade – que já dura há oito anos. As encomendas de Portugal alargaram-se, juntaram-se a estes vinhos outras chancelas como Duas Quintas (normal e Reserva), Esporão Reserva (tinto e branco), Monte Velho (t & b), Esporão Selecção Privada (t & b), Quatro Castas (tinto), assim como verde Casal Garcia, Gazela e Casal Mendes.
AD/SP/V –  Quanto a outros produtos portugueses?
AS – Sim. Mas deixem-me voltar atrás. Devido a um desaire passei de dono a empregado do Pomodoro, onde permaneci 7 anos. Nessa altura criei a empresa de vinhos DOPISA SA que em 2006 passou a GRUPO DOPISA HOLDING, abrangendo as importações do Grupo Monte Velho (Esporão) ao passo que outra empresa, a Inversiones Especiales En Salud, abrange a linha de vinhos espanhóis Santa Alicia, os Grupos Ylleva e Paramo de Gusman, assim como a Cerveja Sagres e a Água do Luso, cujos primeiros contentores já estão a caminho. Voltando à vossa pregunta, iniciei a importação de azeite de Fátima, compotas da Beira Baixa e vinagre do Esporão, para além de um balsámico da empresa de Fátima que o engarrafa depois de importado de Modena (Italia). E eu próprio já estou a preparar-me para engarrafar azeite e vinagre no Panamá, importados de Portugal.
AD/SP/V – Então e estas salas cheias de vinhos chilenos e argentinos?
AS – Mas esses são aqui fundamentais, quer pela posição de relevo que sempre ocuparam no mercado local quer pela sua superior qualidade. Tenho aqui garrafas que se vendem entre 200 e 600 dólares, assim como uma de Porto da segunda metade do século XIX, avaliada em, pelo menos, US$15.000. Mas Vinhos do Porto eu importo exclusivamente das Caves Ramos Pinto (Tawny, Lacrima Christi, Late Vintage, Vintage e outros portos de 10, 20 e 30 anos) assim como alguns vinhos de mesa. Da Herdade Esporão tenho a inteira exclusividade de todos os seus vinhos para o Panamá, assim como tenho a do azeite Nuno Branco. Em meados de 2008 conto ter no mercado panamiano cerca de 600 produtos portugueses no Panamá, tais como vinhos, pastelaria fina, azeite a granel e embalado para distribuição local.

Dois Antónios, uma só conversa seria!

AD/SP/V – Gostaríamos de dar agora um outro rumo à nossa conversa e falar um pouco do António dos Santos que vive com a sua comunidade lusa em mente…
AS – Bom, em fui dois anos presidente da Associação Portuguesa do Panamá e, durante a minha gerência enveredei pela criação de projectos de unificação das nossas gentes, em grande percentagem oriundas da Madeira e do Continente. Para isso organizei dois anos seguidos o Dia de Portugal e o Dia da Madeira, assim como, transmissões dos jogos do Mundial de 2006, então no Restaurante Portogalo, de que também fui sócio. Infelizmente as coisas mudaram e a APP está quase inactiva. Contudo tenho em mente um projecto que visa a criação de uma Associação Luso-Panamiana que possa agregar portugueses de primeira geração e luso-descendentes (cerca de 1.500) e panamianos. Outra faceta diferente da minha gerência foi que nesses dois anos, entregámos, em nome da nossa comunidade, um cabaz de oferendas aos primeiros bebés nascidos no Panamá no dia 10 de Junho, dia de Portugal.

Anotando, anotando sempre.... - António dos Santos o entrevistado

AD/SP/V – Estás, portanto, confiante no futuro do Panamá?
AS – Sim, estou. A saída dos americanos constituíu, em termos materiais, uma dura perda para o Panamá. Ficamos com o canal sob a nossa gerência e manutenção mas deixamos de ter cerca de 160 milhões de dólares a circular, assim como muito desemprego (pessoal que trabalhava na base), abaixamento catastrófico de níveis salariais e de nível de rendas de aluguer habitacional. Contudo a situação estabilizou-se nos últimos anos, e a abertura da construção do novo canal trará ao Panamá o dobro da sua população e um “boom” económico fantástico. Inclusivamente, escolas e hospitais estão já a ser planeados e construídos com vista à explosão demográfica. Estou bem confiante!
AD/SP/V – Muito obrigado te ficamos pela tua disponibilidade.

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Para além do armazem, uma bela e moderna loja
de produtos portugueses


Não terminou a amabilidade do António dos Santos com o fim da entrevista conduzida no escritório do seu armazém, no bairro de La Boca. Insistiu em levar-nos à sua nova loja de vinhos a Don Cesare, no centro comercial Albrook Garden, no bairro de Clayton, perto da sua residência.
Lá encontrámos uma variadíssima gama de produtos portugueses, lado a lado com belíssimas caixas de vinhos para ofertas, acessórios para apreciadores do néctar dos deuses, um boa variedade de cervejas internacionais - a Sagres já vem a caminho!
Depois, foi a passagem pelos terrenos da antiga base dos Estados Unidos, onde quase todos os edifícios são agora a sede panamiana de organizações das Nacões Unidas (Ex. A UNICEF) e da Organização dos Estados Americanos, assim como uma universidade técnica e um parque de tecnologia de ponta.
Ficamos com uma ideia do que era a importância dos EUA neste pequeno país e de como usufruiam dos melhores territórios da capital assim como de acesso às famosas comportas de Miraflores, na embocadura com o Oceano Pacífico.

Um dia de muitas revelações sobre as nossas gentes e de como alguns triunfam da diáspora lusa.

O Cesare Licquor Store ainda por terminar

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