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DO CANADÁ AO BRASIL POR TERRA - DIA 20

QUE VIVAN LOS EMBERA
Y HASTA LA VISTA PANAMÁ!


Vasco Oswaldo Santos (Texto e fotos)
José Ilídio Ferreira (Fotos)
Adiaspora.com
António Perinú (Texto e Fotos)
Sol Português

Cidade do Panamá, Panamá, 24 de Outubro – Estava o escriba no banho, coberto de espuma da cabeça aos tornozelos, quando a voz do Zé se fez ouvir anunciando uma chamada telefónica. Nao se sabia quem era… “- Que chame daqui a meia-hora!”, respondi. Voltou o Zé à carga dizendo que era da Unigreen. Ora nós estávamos precisamente a preparar-nos para ir pagar, tal como determinado pela companhia. Enrolei-me na toalha e fui pingando atender o telefone. Era a Srta. Ana Raquel, muito angustiada “que o pagamento tinha de ser efectuado e que a Srta. Sueli vos espera…” Bom, eu expliquei que lá iríamos dentro de minutos. Insistia a Ana Raquel na urgência da ida. Coloca-me em “hold”. Vem a tal colega, muito solícita a confirmar o que eu já sabia, que tínhamos de efectuar o pagamento até ao meio dia. A Oeste Nada De Novo, como escreveu o grande Erich Maria Remarque…

Modelo do navio que transporta o nosso car

Pagamento efectuado!

Uma hora depois estávamos no Edifício Unigreen, para satisfazer uma dívida que, por lei, só pode ser saldada no momento em que o contentor entra a bordo e nunca antes.
Toda a documentação entregue pelo Zé Ferreira foi fotocopiada, incluíndo as notas de dólares americanos… Curiosamente, a factura indicava menos 50 dólares que o aprazado. Ora bem, tinha a Srta. Ana Raquel indicado a 5 de Setembro que seriam US$950.00 para o carro e mais 25 dólares para o seguro, num total de US$975.00. Nada disso, explica a solícita Sueli: tal seguro é facultativo para os donos da mercadoria. Se o barco for ao fundo, a transportadora tem esse seguro automático. Só havia que pagar 25 dólares para a papelada e nada mais… Outro enganosito que a não ser detectado iria para a “corda do sino”. Mas o pior estava para vir: é que o nosso navio, estava de novo atrasado. Em vez de partir na data de hoje só saíria a 26 para Callao onde a chegada estava prevista agora para 1 ou 2 de Novembro… Filosoficamente a gente limitou-se a pedir que nos facultassem outras informações acessóricas e saímos dali para fora, de recibo em riste, esperando por melhor sorte.

José e Vasco tomando conhecimento de mais um atraso....

Mas foi a tarde que nos salvou o último dia inteiro de estada no Panamá. Havíam-nos indicado uma visita a uma tribo aborígene, os “índios” Embera, que vivem numa zona selvagem a cerca de meio caminho entre a Cidade do Panamá e Colón. Até à vila de San Lorenzo, o pavimento escapou. Mas daí para a frente, foi por um piso sinuoso entre belíssimas árvores, cheio de crateras, algumas mesmo a formar pequenos lagos, obrigando o Ricardo a manobras de grande perícia para que chegássemos inteiros. Cerca de meia-hora mais tarde desembocávamos num local elevado sobre um lago em mais de metade coberto de vegetação – a lembrar arroz selvagem, sobrevoado por patos, garças e outras aves aquáticas desconhecidas para nós. Em baixo, num declive de terra vermelha, encalhava a proa de uma piroga que, de longe nos pareceu um enorme tronco escavado, a que um motor fora-da-borda dava o único toque de modernidade. Ao embarcarmos é que se tornou evidente que o formato do barco era de um só tronco mas realmente constituído por três peças longitudinais de madeira, que, com o movimento, deixavam entrar um pouco de água pelas gretas da madeira. Uma viagem de cerca de 10 minutos, num cenário paradisíaco, a que não faltou sequer uma cascatinha a dois níveis, fez o escriba lembrar um (outro) dia inesquecível junto às quedas de água de Kanaima, na Amazónia venezuelana.

As bailarinas - Cascatinha

Ao aproximar-nos da margem do nosso destino, começou a vislumbrar-se um tecto de colmo, depois outro, enfim uma estrutura de pórtico. Havíamos chegado a Tusiponoembera, a aldeia da tribu Embera, cujos líderes negoceiam à entrada o período de tempo e de actividade dos visitantes, com um mínimo de 25 dólares de entrada.
Surpreenderam-se de não havermos feito qualquer reserva ou de irmos acompanhados de um guia. Explicámos que era uma visita quase que espontânea, e que não queríamos perder. Tudo se acomodou e permitiram que nos juntássemos a um grupo de estrangeiros, viajando em três enormes canoas, que iam assistir a um espectáculo e almoçar com os nativos.
Livremente calcorreámos as pistas de terra entre as cabanas, sem paredes e de chão muito elevado, onde vivem as pessoas da tribo. As crianças, todas nuazinhas, corriam pela vegetação, desafiando os visitantes para a brincadeira inocente. As pequenitas, eram preparadas pelas mães para a dança em que teriam dentro em pouco de exibir. Os músicos e chefes concentravam-se na cabana principal, um enorme redondel tapado, com mesas todas em volta exibindo uma vastíssima gama de artesanato puro, de entrelaçadas ráfias, contas, pedras semi-preciosas, casca de tartaruga e madeira talhada, a preços convidativos.

Escriba d'Algés - Fragateiro d'Alcochete

Para o jornalista, a grande surpresa foi a do elevado nível de educação e instrução evidenciado pelos nossos interlocutores que, depois das formais boas-vindas, nos explicaram que a língua dos Embera foi finalmente transformada em escrita e que é ensinada às crianças desde tenra idade. Os Embera são de pele muito cobreada, sem adereços pilosos e de muito pouca barba, roliços mas de baixa estatura, sendo as mulheres sorridentes e muitas delas sem roupagem alguma acima da cintura, coberta de panos coloridos.

Marinheiro

No momento das danças, o guia do grupo de “gringos” chamou um por um os instrumentistas para que pudessem demonstrar o som de flautas de bambú, tambores, tamboretes e maracas. Depois, alinhadas, com belíssimos colares, as mulheres, primeiro, e acompanhadas dos homens depois, dançaram e cantaram de roda melodias simples, graciosamente acompanhadas da criançada que assim “entra” na cultura social dos mais velhos.

Meninas Embera

Mas foi sobretudo a arte de bem receber, o entendimento sério e linguístico, o nível de escolaridade identificável, que nos tocou profundamente nestes nativos panamianos. Porque o nosso navegador nos esperava, abreviámos um pouco a nossa estada, não sem nos apercebermos de uma bem disfarçada organização interna que nos deu para entender certos procedimentos bem compartimentalizados como os das boas-vindas, recepção, negociação, orientação, promoção de vendas e até de trocos e recebimentos do dinheiro. Tudo naturalmente desempenhado e ordenado.

Na entrada do aldeamento de Tusiponoembera - O aldeamento Embera

Nao sendo etnologos nem especialistas na matéria, os jornalistas limitaram-se a utilizar o seu poder de observação das gentes e das coisas, trocando na viagem de regresso os pontos de vista e percepções que agora aqui ficam registadas para partilha com os nossos leitores. É curioso como no mundo de hoje, a poucos quilómetros do que nós entendemos arbitrariamente por civilização e conforto garantido, pode ser tão contrastado por um modus vivendi totalmente alheio aos nossos conceitos do que é a qualidade de vida. “- Ah, a simplicidade!”, como o Jacinto diria a Eça, na “Cidade e as Serras”…

Com um dos caciques

Uma nota de comicidade, fora do aldeamento Embera foi um comentário do Zé, ilhéu assumido, quanto a uma piroga que por uns momentos vogou a nosso estibordo com meia dúzia de turistas: - Olha para aqueles – cheios de coletes salva-vidas para meio metro de água parada!

O lago de acesso - O transporte

Assim terminou uma estada forçada de 13 dias no Istmo das Américas. Muito aprendemos, algo desesperámos. Mas a simpatia das gentes e a gentileza dos Embera – a que não andou também afastada a do António dos Santos, nosso compatriota que todo o Panamá conhece, levam a dizer-nos bem agradecidos: Gracias a los Embera, hasta la vista, Panamá! Volveremos! 

Os jornalistas com os chefes tribais

Troca de lembranças

Uma beleza aborígene - Uma cubata típica

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