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DO CANADÁ AO BRASIL POR TERRA - DIA 28

UMA INOLVIDÁVEL INCURSÃO A LIMA
APROVEITANDO O FERIADO DE TODOS-OS-SANTOS


Vasco Oswaldo Santos (Texto e fotos)
José Ilídio Ferreira (Fotos)
Adiaspora.com
António Perinú (Texto e Fotos)
Sol Português


Miraflores, Lima, Peru, 1 de Novembro – Este foi o primeiro dia de sol, de céu quase azul, desde que atravessámos a cidade do México. A ideia era a de encontrarmos a toponímica alusiva a Portugal, na sequência de uma pesquisa levada a efeito pelo Zé Ferreira e que resultou na seguinte e curiosa estatística. Na cidade de Lima existem 3 ruas, em outros tantos distritos (bairros), com o nome de Lisboa: em Callao, San Juan de Lurigancho e Ate Vitarte. Noutros seis distritos, o mesmo número de ruas ostenta o nome de Portugal. São eles: San Martín de Porres, San Juan de Miraflores, Lurins, Rimac, San Tiago de Surco e, novamente Ate Viarte. No Bairro de Breña, em Lima, também se situa, um pouco mais pomposamente, a Avenida República de Portugal. Foi lá que o nosso grupinho se dirigiu para registrar as fotos apresentadas neste texto. Nessa mesma avenida – mais ruazita secundária que outra coisa, de um só sentido, encontrámos, todavia, edifícios de fino traço arquitectónico, lamentavelmente sofrendo as moradias de um estigma generalizado em qualquer zona residencial desta cidade: a necessidade de se murarem ou gradearem as frentes das casas, algumas até com três fileiras de arame electrificado a clamar silenciosamente a falta de segurança que – por vezes – 2 e 3 polícias a cada esquina – não conseguem disfarçar.

Sempre bem conduzidos pelo nosso fiel Diego, voltámos a insistir em fotografar as favelas. Desta feita, o avisado e correcto taxista não conseguiu “dar-nos” a volta. Tanto mais que, num parque próximo da Plaza Mayor, perto de um gracioso viaduto, cheio de famílias a passarem o dia com a filharada, se descobriu que a ponte ligava efectivamente o centro histórico da cidade à imensidão da favela que se alarga até às colinas de estrutura vulcânica que rodeiam o gigantesco vale onde Lima assenta.

Escadaria para a favela - Progresso no meio da pobreza

Porque a procissão alusiva ao feriado, se começava a formar, muitas eram as ruas cortadas ao trânsito, criando ainda um pouco mais de caos na forma como se conduz por estas paragens. Conhecedor profundo dos caminhos, o Diego rumou a uma elevação onde lobrigámos um autocarro minúsculo a desaparecer pela bruma constante da poluição.

O pobre do Diego deve ter feito das tripas coração, mas furou, furou, por volteios e cruzamentos sem sinais, indo parar… a uma praça de toiros! Cá fora, havia charrettes e meninas vestidas de sevilhanas, senhoras com braçados de cravetas vermelhas, cavalicoques bem escovados e uma multidão de aficionados e vendedores de bilhetes à candonga, como também acontece nas imediações do nosso próprio Rogers Centre…

O Zé saltou do carro para fotografar e o Perinú embandeirou em arco, como se poderia esperar de um antigo toureiro. O escriba também não resistiu às oportunidades fotográficas irresistíveis e, em menos tempo que leva a escrever isto, estávamos a negociar a entrada para umas fotinhos. Sem muita dificuldade e rodeados de gente amável, eis-nos bem perto do pátio das quadrilhas… e até dentro do próprio redondel.

E assim se entrou no antro tauromáquico sagrado
do redondel de Acho!

O que tem de ser, tem muita força. Havíamos citado, na anterior reportagem, não termos ido a Acho, ver a primeira corrida de toiros desta Feira, por, há mesma hora, nos encontrarmos a fazer outra visita. Desta feita, o nosso destino era ver as favelas e, a caminho das mesmas, quiz o destino, que passássemos mesmo à porta do tauródromo emblemático da capital peruana, o de Acho, construído em 1866 e renovado em 1944.

Era tarde de toiros! E o seu perfume desde logo foi embriagante, até por diferentes razões. Como não podia deixar de ser, era dia de festa para a aficion. As bonitas jovens, vestidas à sevilhana, foram o “aperitivo” para a fotografia.

Aguardando o novillo.... - para acabar ignorado!

A rês procurando as tábuas - reportagem em plena plaza...

Depois, o apregoar da oferta de bilhetes para “sol e sombra” lembrou-nos os tempos distantes em que os escribas andavam pelas feiras taurinas do Portugal de então. Como é próprio dos jornalistas, logos descobrimos uma casa periférica, fronteiriça à praça, ostentando, nas suas quatro paredes, fotos de toureiros e cartazes de várias partes do Mundo dos toiros. Não faltando sequer o nome do português Vítor Mendes, figura mundial dos anos 80. Dada a oportunidade, as nossas objectivas não pararam de disparar. Algo inédito, mas verdadeiro porque, quando demos por nós já estávamos em plena praça. As nossas credenciais jornalísticas evitaram até a reserva de passes, o que aconteceu por obra da simpatia de que fomos alvo ao nos identificarmos. E em que a simpatia das autoridades locais nunca andou arredada.

Las flores, las niñnas y sus cocheros - Los nietos solicitando la autorización

Autorização aos nietos - No redondel também se dança!

Sim, porque estávamos de passagem, nem havíamos solicitado passes para algo que até há minutos desconhecíamos. O que para a Expedição constituiu algo de inesperado, uma vez que, nem em Portugal, nem em Espanha, seríamos alvo de tal atenção.

Entrega da chave dos curros - Editor abandona a praça

Amizade à primeira vista!

Quando entrámos na praça, esta encontrava-se ainda com pouco público. Mas em escassos minutos, antes das três e meia da tarde, a lotação quase que esgotou, no bem latino “última da hora”! Bem instalados junto à barreira, deliciámo-nos com o ritual peruano de cortejo de cavaleiros e bailados de grande qualidade, em plena arena, algo que nada tem a ver com a tradição tauromáquica europeia. O garbo dos cavaleiros, o volteio dos cavalos e a graciosidade dos bailarinos foram uma mancha de arte e de cor, mais fácil de descrever com imagens que palavras. Enquanto que o Zé e o Luís se mantinham fotografando o “folclore” do evento, o Perinú e o Vasco procuraram situações menos comuns como a de penetrar na capela onde os diestros fizeram as suas orações e donativos antes de enfrentarem a morte sempre presente nestas lides.

Pátio das cuadrillas - Um cavalo sorridente

Olé, Acho!. - Vista parcial dos sectores da Praça de Acho

Na hora em ponto, ao som do famoso pasodoble El Gallito, brilhantemente executado pela banda taurina de Acho, os três jovens novilheiros faziam o passeio: Juan Belga (18 anos), Jairo Miguel (14 anos) – ambos espanhóis – e o peruano David Carrasco (19 anos), acompanhados das respectivas quadrilhas, bandarilheiros e picadores.

A Festa como Religião - Primeiro poyazo

Apurense, Niñas! - Colhida sem consequências

Melocotoncito, el Manso - Lanceando à Verónica

Registe-se que os novillos pertenciam à ganadaria de Santa María Magdalena, de Cajatambo, com divisa rôxa e procedência Domecq.

Caballero - Aficionados!

Assistimos apenas à entrada do primeiro novilho e do primeiro novilheiro em praça, que desde logo se preparou frente aos curros, para receber, de joelhos, o adversário, com uma larga farolada. Só que a rês entrou no redondel a passo, distraído, ignorando o diestro. Este, ensaiados alguns passes de tenteio, procurou lancear à verónica; só que o cornúpeto, procurava o vulto e o jovem novilheiro foi volteado sem consequências de maior

Diestro não se consegue fixar - Final do passeio

Vimos depois o primeiro puyazo da tarde e… vamos embora que se faz pressa, todo um outro programa nos esperava ainda.

En la barrera

De pequenino(a)....

Os novilheiros não se medem aos palmos - Novilheiros de ontem e de hoje

O diestro em oração

O Deslumbre do Cerro San Cristóbal

Da plaza de Acho à favela, nem 500 metros distam! A favela é difícil de explicar porque tem uma dimensão social, de tal forma complexa, que, por si só, merecia uma peça especial e distinta. Só não fazemos agora porque merece mais reflexão dada a esmagadora dimensão que a envolve. A subida é um exercício de equilíbrio instável, em autênticos combóios de veículos de todos os tipos, ruelas de dois sentidos que mal chegam para prover estabilidade a uma só mão! Mas é valiosíssima a experiência. Ninguém que o não faça pode em boa verdade entender esta metrópole. O Cerro San Cristóbal é como que um cone vulcânico, encimado de uma cruz gigantesca, no centro do vale que alberga Lima. Do seu topo, 412 metros sobre o nível médio do mar, um miradouro circular permite que se veja toda a capital, uma monumental favela circular e trepadora das gigantescas colinas que a rodeiam, cujo – pequeno – centro tem edifícios antigos e modernos. Ou seja, onde a frase “um casario a perder de vista” se me saltou à mente em toda a acepção da palavra. É preciso ver para crer, pensar, e posteriormente tentar formalizar a grandiosidade do que se observa. Para o escriba, que tem tido a sorte de ver mundo e observar muitas coisas, essa história das favelas do Rio ou de Caracas, são fenómenos menores. Bem menores, por sinal!

A favela galvando a montanha - Cerro San Cristóbal

Cubismo na favela

Quanto à Cruz que a encima, o seu historial é igualmente um fascínio. Em inícios do ano de 1536 iniciou-se a resistência indígena no Peru, a mandado de Manco Inca, um líder que enviou de Cuzco para Lima um exército de cerca de 25.000 homens, comandados pelo cacique Titu Yuoanquí, com capacidade para desbaratar os invasores espanhóis, expulsando-os de vez. Estes encontravam-se reunidos em Lima, nas margens do Rio Rímac, ao mando de Francisco Pizarro, e com pouco mais de um efectivo de 500 homens, todavia dispostos a lutar contra os nativos para se defenderem. O exército inca acampou nas faldas do Cerro e, durante 10 dias, sustiveram sérios combates com os defensores da cidade. Sempre que os sitiadores intentavam atravessar o rio para consumar a derrota dos “conquistadores” sitiados, a corrente das águas tornava-se de tal maneira impetuosa, subindo tanto o seu caudal, que centenas dos enviados pelo Manco Inca pereciam afogados em inúmeras ocasiões, sem lograrem a travessia do curso de água. Na manhã de 14 de Setembro, festa da exaltação da Cruz, os indígenas empreenderam a retirada sem que se haja podido explicar as causas que motivaram o dito acto.

Expedição junto ao Cruzeiro

Favela - Plaza de Acho vista do Cerro

Os espanhóis tomaram este evento como um milagre do santo São Cristóvão, guia dos aventureiros, caminhantes e viajantes. E pelas 4 horas da tarde do referido dia, Don Francisco Pizarro, à frente de uma numerosa comitiva, dirigiu-se ao Cerro e baptizou-o com o nome de San Cristóbal “pelo milagre concedido” e eregiu in loco uma capela, colocando ainda no cume uma cruz de madeira. Em 1537 inaugurou-se a Capela do Cerro, ali acudindo as gentes em dias festivos, até que o terremoto de 1746 destruiu o santuário.

Fujimoro terminou o que Pizarro iniciou....

Várias cruzes foram substituindo a original até que, no ano de 1927 se inaugurou a de ferro e cimento que hoje lá se encontra dominando a capital. Dos caboucos ao topo mede 20 metros e os braços têm uma envergadura de 13. Contando com 52 holofotes. Desde o início da sua consagração que, durante a Semana Santa, constitui a 14 estação da Via Sacra, constituída por outras 13 cruzes colocadas morro acima pelo padre franciscano Amuero, em 1965.

Zé Ferreira à beira do abismo

O abismo por debaixo do Editor!

O Museu do Ouro

Ainda mal refeitos das experiências da tarde, rematámos o dia com uma breve visita ao Museo del Oro del Peru, Um recinto privado bem caro para entrar, com um enorme jardim rodeado de belíssimas boutiques de artesanato metálico e ourivesarias. O pavilhão central é um gigantesco cofre-forte, por onde se entra através de grossas portas de cofre bancário, albergando ainda uma excelente colecção de armas e parafernália militar, do tempo dos “conquistadores” até aos nossos dias.

À porta dos tesouros do Peru

A descrição do que vimos merece um espaço mais amplo e será objecto de um trabalho que pretendemos elaborar este fim de semana.

Boutiques no átrio do Museo del Oro

Isto porque pretendemos visitar sábado, ou domingo, o Museu Nacional do Perú e fazer uma análise comparativa entre ambos.

É Vasco mas não condiz com o escriba!

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