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DO CANADÁ AO BRASIL POR TERRA - DIA 9/10

MAU TEMPO CONTÍNUO - ALIADO NATURAL
DAS PÉSSIMAS VIAS COSTARIQUENHAS


Vasco Oswaldo Santos (Texto e fotos)
José Ilídio Ferreira (Fotos)
Adiaspora.com
António Perinú (Texto e Fotos)
Sol Português

Cidade do Panamá, Panamá, 13 de Outubro – O último dia de permanência em San José foi destinado para que eu e o Perinú nos dedicássemos a textos e fotos, com uma oportunidade até de um momento desportivo inesperado a que daremos relevo no Diário de dia 15 de Outubro. Ao cair da noite estávamos no processo de enviar as fotos quando a internet do Hotel avariou por várias horas. Os textos já tinham passado mas as fotos estavam a meio e as rotativas dos jornais em Toronto são impiedosas - como aliás em todo o mundo: não esperam nem se ralam com os acontecimentos que se limitam a imprimir à hora marcada.

Várias acrobacias cibernéticas foram postas em prática. Nada resultou e foi já ao amanhecer de ontem que, após uma nova “directa” – coisa que a mim e ao António Perinú já vai sendo complicado - tudo estava enviado para o Canadá. Pequeno-almoço tomado partimos, ainda com um pouco de sol rumo à fronteira com o Panamá. Foram uns penosíssimos 350 quilómetros de estradas de montanha – chuva e nevoeiros cerrados, evitando a aproximação de camionistas loucos que não olham a meios para atingir os seus destinos -, árvores tombadas ao virar das curvas, buracos terríveis, lamaçais e outros “mimos” rodoviários (?)...

Quando, passado San Isidro entrámos em terreno mais plano, mas não isento de curvas, seguimos ao longo de cursos de água revolta, cascatas que desabavam sobre a estrada, aluímentos de terra, troncos e ramos tombados das árvores meio equilibradas no alto dos rochedos que rodeiam a estrada, e muitas paragens longas à medida que as equipas de trabalhadores iam tentando limpar os detritos maiores ainda que impotentes para as derrocadas de pedregulhos de muitas toneladas que caídas na altura errada pulverizariam qualquer viatura. Como se isso não bastasse, súbitas inundações iam arrastando lamas sobre o asfalto, deixando a terra vermelha à mostra obrigando-nos a saír da Mercedes para guiar o Zé Ferreira, condutor estóico desta jornada: foram 17 horas consecutivas, desde a saída do Barceló às 8 horas da manhã até 3h30 da madrugada do dia seguinte, já em pleno coração da Ciudad de Panama.  Sabíamos de antemão – e havíamos sido bem avisados em Toronto! – que as estradas da Costa Rica eram as piores da América Central. Mas aquelas crateras sucessivas, cheias de água, mesmo abertas em troços de reparação recente, foram um pesadelo de que ainda não nos livrámos ao cabo destes últimos dias. Curiosidade foi saber da boca de Freddy González, empregado da Texaco, a 100 quilómetros da fronteira, que nunca havia visto passar por ali nenhum carro de matrícula canadiana, o que não nos surpreende dado que muitos outros nos disseram precisamente a mesma coisa, ao longo do percurso.

O tapete reconfortante da Pan Americana no Panamá

Anoitecia quando atingimos Peñas Blancas, o posto fronteiriço entre a Costa Rica e o Panamá. Dez minutos antes, como tem vindo a ocorrer frequentemente, fez-se uma pequena paragem para retirar os logos dos nossos patrocinadores. De contrário, as alfândegas cobrar-nos-iam impostos tais que seriam superiores aos patrocínios. Desta feita, as habituais peripécias com os documentos foram mais fáceis de ultrapassar. A principal residindo na nossa prática adquirida desde o México, o facto do “despachante” do dia – um jovem calmo e educado envergando uma camisola do Real Madrid – e uma burocracia menos complicada com filas ordeiras e sem convulsões dignas de registo. Mas ainda assim morosas. Passado o túnel desinfectante entrámos no país que é conhecido pelo Istmo, devido a ser uma estreita faixa de terra a ligar dois sub-continentes. Voltou a cair uma chuva persistente ainda que menos torrencial.

Dentro do carro, a gente ia dormitando aos pedacinhos, já exaustos, mas a estrada -se boa, bem sinalizada de luzes reflectoras, as tais tintas que as más línguas dizem que os escoceses, na sua proverbial avareza, utilizam para pintar o interior das suas casas, aproveitando depois a luz dos vizinhos... Por isso leva o nome de Scotch Light! Motéis não se lobrigavam, hotéis ainda menos. A fome apertou e um delicioso frango de churrasco, numa tasca de aspecto muito portuga (incluíndo as sentinas sem toalha, papel ou sabão), guarnecido de batatas fritas verdadeiras, mitigaram-na.

David (cidade aparentemente fundada por um sefardita português), Chiriqui, San Félix, Santiago, Natá, La Chorrera, foram localidades que ultrapassámos ou circundámos, desta feita em regime de semi-directa – passava da meia-noite – nesta tirada de 440 quilómetros para terminar na Cidade do Panamá. Eram 3h30 da madrugada de domingo, 14 de Outubro, quando encontrámos alojamento duas ruas acima do hotel onde tínhamos ficado, eu e o Zé Ferreira, na primeira semana de Setembro. Estava cheio mas a alternativa foi bastante boa e menos onerosa.

Roncámos até bem tarde. De tarde, vimos, na tv do quarto, o Brasil empatar em Bogotá, com a Colômbia, a zero golos e, dada a diferença da hora do início destes jogos, a metade da segunda parte do Honduras-Panamá, disputado em Tegucigalpa e ganho pelos donos da casa por 1-0. Os dotes de cozinheiro do Zé traduziram uma atunzada com feijão num petisco de estalo e a gente evitou de ir apanhar chuva à rua. Ah, quase que esquecia: para não variar, Brasil, Colômbia, Honduras e Panamá jogaram o tempo todo debaixo de chuva. A diferença é que o relvado dos colombianos parecia de puro veludo e o dos hondurenhos um prado onde o trevo havia sido desbastado à pedrada. Cada terra com seu uso...

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Percurso percorrido: 859 kms em 17 horas de condução

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