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Origem da Precipitação

Félix Rodrigues
Departamento de Ciências Agrárias - Universidade dos Açores
Angra do Heroísmo, Terceira, Açores, Portugal

Se chove, não é só porque o vapor de água se condensou, evaporou, deslocou, aglutinou ou precipitou. As moléculas de água, movendo-se na direcção correcta, fogem da superfície do mar, dos rios, dos lagos, do solo ou das plantas, onde estavam prisioneiras, rebentando as amarras que as seguram, como se a temperatura ou o vento lhes dessem ânimo para escapar. Não desaparecem, mas evaporam-se, esfriando o local que abandonam.
Nos meandros sumptuosos dos movimentos da água do Atlântico, controlados pela necessidade de se refrescarem, ou de outro modo, pela necessidade de perderem calor, geram os seus próprios trilhos como que contornados por linhas douradas de Sol que delimitam a chamada Corrente do Golfo.
A Norte do Equador, o aprisionamento dos raios de Sol pela água do Atlântico, quase que iguala a perda de calor resultante da evaporação, revelando-nos a grande capacidade da Mãe Natureza em fazer balancetes energéticos.
É devido a esse balancete, e à barreira continental que a corrente tropical encontra na América Central, no Golfo do México, que a água quente se desvia num ramo que se dirige para as ilhas açorianas, e outro que continua para nordeste.
É devido à necessidade constante que o mar sente, de redistribuir aquilo que recebe, que tende a aquecer aquela gente que vive nas regiões enregeladas do Norte da da Europa. Por isso;


A corrente marítima potente,
No Atlântico, rápida e quente,
Transfere calor sensível, não latente,
Para a Europa-Continente.


A sul do Equador, a distribuição parecia diferente, mas muito recentemente, outros meadrandos foram encontrados. A antiga corrente do Brasil e a nova corrente de Santa Helena, mostram uma nova cara do Atlântico, ou melhor, a simetria que se exige a qualquer face de um deus que tivesse esse nome.
Se o sistema de correntes do Oceano Atlântico se alterar, as temperaturas moderadas do noroeste da Europa baixarão e os padrões espaciais de distribuição de chuva variarão.
O aquecimento global aumentará a concentração de vapor de água na atmosfera, o que favorece o aparecimento de precipitações mais longas e intensas nalguns locais do planeta, e noutros, a sua quase ausência.
O aumento da temperatura média do planeta, que se tem verificado nas últimas décadas, derivado do lançamento para a atmosfera de enormes quantidades de gases de estufa, ou seja, de gases com origem antropogénica que alteram o clima, poderá fazer variar o transporte de calor distribuído pela corrente do Golfo, e por consequência, o clima moderado da Europa marítima e continental.
O Atlântico, quer a Norte, quer a Sul do equador, regula o tempo e o clima. Tempo é uma combinação passageira dos elementos do clima, enquanto que clima é a sucessão normal dos tipos de tempo.
A distribuição de vapor de água no Atlântico faz-se pela circulação atmosférica, que consoante as condições físicas que se verificam em determinados locais originam diferentes tipos de chuva:
- Convectiva, quando resulta da evaporação e consequente arrefecimento pela subida do ar húmido. Ocorre predominantemente nas regiões equatoriais e tropicais.

Mar (2007) de Cristina Oliveira

-Orográfica, se resultar do deslocamento horizontal do ar que esbarra com uma elevação de terreno a menor temperatura.

Pastando (2007) de Jovino C. Batista

-Frontal, quando causada pelo encontro de uma massa de ar fria, com outra de ar quente e húmido.

Céu carregado (2007) de Filipe Franco


No meio do Atlântico Norte, é o Anticiclone dos Açores quem faz a distribuição da chuva pela Europa marítima. É um enorme chapéu branco-sujo-acinzentado, de plumas desalinhadas, por vezes ripadas, mas não poídas ou desusadas, que se enribeira entre o mar e o céu, entre o bom e o mau tempo, e por vezes, entre a sorte e o azar.
Se faz sol é porque rodou e deixou que os raios de luz penetrassem através das suas hélices. É quase um gingante helicóptero que ronrona delicadamente no sentido horário, nas grandes altitudes. Se faz chuva é porque a trouxe, provavelmente da América, do grande supermercado mundial onde parece que tudo se compra.
É uma batedeira de nuvens em castelo, de cirros claros e estratocumulos nervosos. É a grande misturadora do Atlântico Norte.
Esse chapéu gigante está sobre os Açores há tanto tempo quanto a Grande Mancha Vermelha sobre a superfície de Júpiter.
Fortalece-se com o néctar de Rá, embebeda-se com a ressalga de Júpiter, corre mais do que Aquiles, matou mais do que Marte, ama tanto como Vénus, mas nunca sequer chegou a ser filho de Deus. Homero não o exaltou, Camões não o cantou, Shakespeare não o teatralizou, Pessoa não o poetizou, Cervantes não o citou, Carlos Drumond de Andrade não o fraseou e Saramago não o pontuou.  
A sul, os anticiclones também ronronam, sentido anti-horário, como que querendo assumir uma identidade diferente funcionando por vezes como bloqueio atmosférico.
Se as correntes marítimas têm simetria, onde corrente dos Açores tem paralelo com a corrente de Santa Helena, o anticiclone dos Açores, gemina-se com o anticiclone de Santa Helena.
E nós como nos geminamos?
Se pudéssemos viajar como se fossemos uma gota de água, teríamos provado que o Mundo era redondo muito antes de Fernão de Magalhães. A nós, só nos é permitido viver na mesma efemeridade das gotas de chuva.
Se nos pudéssemos espalmar contra o solo árido, veríamos que teríamos a mesma capacidade da água de rejuvenescer eternamente a terra, mesmo não sendo eternos. A nós, só nos é permitido o contacto com a terra.
Somos principalmente água. Água com memória. Somos humanos de água, terra e poemas.
As pontes que servem para cruzar as águas também se estabelecem, de outra forma, com a própria água e com os seres viventes. Esta Planeta é um império de água, de azul do mar e do brilho translúcido da chuva.


O ritmo das marés,
o dia e a noite,
a vida e a morte,
a seca e a chuva,
são notas da nossa efémera existência,
que antecedem o silêncio.


Para haver chuva, não é só necessário, ter vento, calor, frio ou vapor de água. A simplicidade da chuva é mascarada pela complexidade do seu processo de formação.
É necessário verificarem-se três condições para chover:
-O ar deve estar saturado com vapor de água,
-Existir uma superfície sobre a qual o vapor de água se condensa,
-Racionalidade de comportamentos.
O orvalho forma-se sobre os objectos que se encontram próximos do solo. Se porventura ocorre condensação no ar, é porque partículas microscópicas, denominadas núcleos de condensação, fornecem a superfície necessária para que ocorra a condensação do vapor de água.
Dependendo de sua formação específica, os núcleos que originam precipitação são classificados em dois tipos: núcleos de condensação de nuvens e núcleos de formação de gelo.
Os núcleos de condensação, são “poeiras” suspensas no ar que também recebem a designação de aerossóis.
Os aerossóis têm origem natural e antropogénica. Resultam das emissões vulcânicas, do spray marinho, das emissões da biosfera, da resuspensão de materiais dos solos e dos desertos ou da queima natural da biomassa, entre outras fontes. Uma parte substancial dessas partículas também é gerada pela acção humana, especialmente pela queima de combustíveis fósseis.
Na formação da chuva, há razões microscópicas que justificam os comportamentos macroscópicos, ou de outro modo, conjunturas macroscópicas que explicam os comportamentos microscópicos.
Nem mesmo no meio do mar, a chuva que lá cai tem como progenitora as águas da região. Veio de longe, transmutou-se em vapor, associou-se a poeira, e já cansada, precipitou-se.
A chuva, é cada vez mais ácida, porque tende a diluir a impressão digital deixada pelos humanos.
O ciclo da água há muito que é global, mas só agora se fala em globalização.

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