Dra. Fátima Toste e António Medeiros directores culturais
da Casa dos Açores do Ontário, entregando
um ramo de flores ao homenageado

Outro orador foi um bem conhecido colega nas artes plásticas e também veterano, Paiva de Carvalho, cujas interessantes palavras aqui transcrevemos:

“ É para mim uma honra falar sobre a pintura do Mestre Hildebrando Silva. Tudo quanto aqui se giga, não falará mais alto e será mais verdadeiro do que a sua arte. Ela fala por si! De muito novo começou a ilustrar revistas, manuais técnicos e publicidade artística. Foi também cenarista de mérito. Trabalhou na Base das Lages da Força Aérea (sector americano). Ali pintou enormes murais, que pela suas dimensões, técnica e temas viriam a considerá-la a mais bem decorada entre muitas outras do mundo. Foi galardoado com um diploma oficial fou “Outstanding Services”. Em 1966 emigrou para o Canadá e fixou-se em Toronto.
Artista versátil pinta a óleo, aguarela, acrílico e desenha à pena e a carvão. Como retratista já passou à tela retratos de figuras publicas e particulares, como o do deputado federal Mário Silva e da nossa Amália Rodrigues. É também ceramista conceituado e os seus painéis de azulejos estão em muitos locais desta cidade, inclusive na Igreja de Santa Maria. Pintor de temas religioso cujos enormes painéis figuram em diversas igrejas. Na de St. Agnes o teto e o altar são obra de Mestre Hildebrando. São também de assinalar os seus painéis de temas históricos, como o que se encontra no Consulado Geral de Portugal, em Toronto.
Na sua longa carreira artística contam-se inúmeras exposições individuais e colectivas. Artista galardoado com prémios e menções honrosa, a sua obra figura em colecções publicas e privadas.
Permitam-me agora dizer algumas palavras àcerca da pintura do Mestre Hildebrando, homem de poucas palavras, excessiva modéstia e duma humildade que chocam! Como artista nunca buscou o universo da fantasia, pois tem o universo da realidade quotidiana. Mestre Hildebrando vive tão dentro da natureza que não necessitou de enveredar pelos tipos de arte aberrante, que ocorre nos grandes centros urbanos da Europa e América. A todas essas manifestações artísticas só posso considerá-las como uma reacção contra a excessiva mecanização e automatismo da vida das grandes e modernas megalópoles, onde o homem se vê reduzido a mera condição de elemento astatistico. O homem vê, a cada passo, surgir pontos de interrogação tão desmedidos, como eram os animais pré-históricos. Não estão à sua medida. O mundo em que se encontra abusa da sua imagem, do som e da imprensa para o conduzir, para o complir e sugestionar. Assim, o artista submetido a tão grandes pressões invisíveis e contínuas, arregimentado e conduzido como se fosse elemento de enorme rebanho acéfalo, instintivamente revolta-se e como fuga a essas pressões busca formas de arte, soi disant, contestatárias.
Mestre Hildebrando, como homem e artista, logo que o seu espírito e o olhar intervem, nem que seja apenas para pintar ou desenhar uma paisagem ou objectos que se julgam sem vida, a partir desse instante tudo humaniza, enriquece, transforma e vivifica. Os seus óleos, aguarelas e desenhos são a prova do que afirmo. Pinta com o memo sentimento e sensibilidade de uma paisagem do seu Açores como uma cena urbana da cidade de Toronto. As suas aguarelas da parte velha de Toronto já são história da cidade que se moderniza. As suas cenas de rua refletem o realismo do dia a dia.
Se é que isso interessa, a sua pintura poderá integrar-se na escola realista-impressionista. Eu, porém, continuo a chamar-lhe sensibilidade! Qual é a vossa opinião?”

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Fátima Jameson - Filha de Hildebrando e Luís Rocha
em representação do Sport Clube Angrense

Foi-lhe entregue algumas lembranças pelo representante do ex-Ministro da Cidadania do Ontário, o luso canadiano Carlos de Faria, e por um membro representativo do Sport Club Angrense de Toronto, Luís Rocha, além de um bonito ramo de flores pela já referida directora do pelouro de cultura da Casa dos Açores do Ontário, Fátima Toste.

Bem merecida foi esta homenagem ao homem e artista que há quarenta anos vem, por estas terras que o acolheram quando um dia resolveu emigrar, quiçá, à procura de melhores condições de vida e de um espaço de vastos horizontes para a sua alma artística que, naqueles tempos longínquos, a sua Pátria lhe negava ou não lhe podia oferecer e, aqui em Toronto, tem vinculado os seus excelentes dotes artísticos sendo, de longa data, reconhecido no seio da comunidade canadiana o que muito nos orgulha, como portugueses. Constatamos pois, naquela noite, a popularidade que Hildebrando goza também no seio da sua comunidade pelas dezenas de pessoas que o congratularam e juntos tiravam fotografias. Sabíamos quão feliz Hildebrando Silva estava naquela noite pelas atenções que era alvo por tantos amigos e patrícios. Só é pena que em vez de duzentas pessoas não estivessem, naquele salão, presentes 600, 800 ou muito mais. Onde estavam, perguntamos, os elementos da sua comunidade, da Ilha Terceira, que se contam às dezenas de milhares por este Ontário, e que Hildebrando Silva tem sabido honrar como cidadão e artista? E os nossos clubes e associações, principalmente os de cariz açoriana? Outra lacuna que gostaríamos de apontar foi a ausência de elementos das nossa Igrejas, aquelas que Hildebrando tem vindo com o seu saber e pincel, muitas das quais talvez a título gratuito, a recuperá-las e a dar-lhes aquela beleza bem à nossa maneira como se faz nas nossas terras do outro lado do Atlântico? Se fosse uma festa de bailarico dedicada aos sócios, ao “avental”, à ‘matança do/a porco/a” ou até dos “namorados” de certeza absoluta que encheria aquele lugar. Confessamos sentirmo-nos tristes com atitudes deste calibre. Assim mostramos, mais uma vez, a fraqueza da nossa coesão, como comunidade, e o porquê das nossas vozes não fazerem eco nos claustros parlamentares.

Para terminar a festa houve música distribuída por DJ para dançar. Francamente, na nossa modesta opinião, achamos que numa festa de homenagem ter de acabar com um “pezinho tremido” é que não encaixa lá muito bem. Mas enfim são opiniões ou gostos, melhor dizendo!

O trabalho de Mestre de Cerimónia esteve ao cuidado de Bill Moniz.

Pela nossa parte queremos deixar os parabéns ao NOSSO Hildebrando Silva, pessoa de quem temos o maior respeito e admiração e que consideramos um verdadeiro “Embaixador” da cultura Lusa, aqui no Canadá, cujas obras são hoje disputadas e adquiridas pelos verdadeiros entendidos na matéria das artes plásticas.

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