Reportagem patrocinada em parte pelo Banco Comercial dos Açores em Toronto

16º CICLO DE CULTURA AÇORIANA SOB A TEMÁTICA
"AÇORES - UM ROSÁRIO DE TRADIÇÕES"

Por Adiaspora - Carlos Morgadinho

Segunda-feira, 23 de Outubro de 2002

Como já nos acostumamos ao longo dos anos decorreu, durante os dias 23 a 29 de Setembro findo, mais um Ciclo de Cultura Açoriana, desta o 16º, organizado pelo Centro de Divulgação Açoriana no Canadá sob a coordenação do seu director, Sr. Manuel Oliveira Neto, um evento que consideramos de suma importância não só para aqueles oriundos da Região Autónoma dos Açores mas também para todos os outros membros da comunidade lusa aqui radicada. O seu vasto e excelente programa, apresentado sob a temática -"Açores - Um Rosário de Tradições", deu-nos a conhecer as multi-facetas da vida económico-social, tradições das suas gentes, festas, música, folclore e gastronomia bem como da grande devoção ao Divino Espírito Santo.


    Dr. João Perestrello               Manuel Oliveira Neto   

Foi pois mais um êxito a juntar aos anos transactos e um exemplo, quiçá, a apontar à diáspora espalhada pelos quatro cantos do mundo como manter viva esses valores culturais tão importantes de quem longe do seu torrão Natal e integrados noutras culturas e línguas diferentes teimam em não esquecer mas sim em preservar firmemente as suas raízes.

Durante nove dias este Ciclo foi pródigo em palestras, lançamento de livros, passagem de vídeos, mesa redondas, teatro, das solene tradições e costumes das suas ilhas que compõem aquele arquipélago, folclore, exibição de Bandas Filarmónicas e grupos corais, tauromaquia na Ilha Terceira, culto do Divino Espírito Santo, trabalhos de artesanato, exposições de fotografia e pinturas óleo, provas gastronómicas de queijos, doçarias, vinhos e licores daquela região.

A abertura oficial deste 16° Ciclo de Cultura Açoriana por Manuel de Oliveira Neto, director do Centro de Divulgação da Cultura Açoriana contou com as presenças do Cônsul-Geral de Portugal em Toronto, Dr. João Perestrello, do vereador luso-canadiano Mário Silva, do Vice Presidente da ACAPO, Rosa de Sousa, e lidas as mensagens do Presidente do Governo Regional dos Açores, Dr. Carlos César, pelo professor Dr. José Carlos Teixeira, da Directora Regional, Dra. Alzira Silva, e do Presidente da Assembleia da República, Dr. João Bosco Mora Amaral, todos congratulando a caracterização deste evento de suma importância para as gentes oriundas dos Açores e não só.

Aquela noite iniciou-se com a abertura de diversas exposições patentes naquele salão dos quais destacamos "A Viola da Terra", um trabalho de pesquisa do centro de Estudos Etnológicos da Universidade Açores; por iniciativa e apoio da Direcção Regional de Cultura; de uma selecção fotográfica dos anos 50/60 do artista Gilberto Nóbrega; trabalhos a óleo do artista Francisco de Andrade radicado em Montreal; artesanato regional de Graciana Tavares e Ana Mota com bordados da cooperativa Lagoa Vale a Pena; trabalhos em escama de peixe pela artesã Idalina Negalha; escultura em madeira e peças de arte sacra (terços de sementes levados pelos romeiros) um interessante trabalho do artesão Eduardo Moreira e miniaturas em madeira por Afonso Maria Tavares além de diversas peças da Lagoa, em vime e louça.

Segue-se uma passagem de um vídeo de José França com o título, "Santa Maria - terra de Sol" após que os mestres António Amaro e Leonardo Medeiros, à guitarra e viola, respectivamente, executam trechos da nossa música. Palestra interessante de Jorge do Nascimento Cabral, líder do grupo Parlamentar do PSD na Assembleia Municipal de Ponta Delgada, subordinado ao tema "As Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres - As Recomendações de Castilho" do qual extraímos algumas quadras do saudoso poeta Oliveira San-Bento, idealizado em soneto numa Carta do Canadá, que um emigrante escreveu para o Sábado do Senhor Santo Cristo, que achamos maravilhosa:

Maria, o coração tem saudades tais
Que nem te sei dizer... Dói o peito de amor!
Ando triste, a pensar: Sábado do senhor
E eu tão longe de ti, do pequeno e dos pais!

Os dias do Senhor! O Fogo! Os arraiais!
A procissão tão grande! Estou a ver o andor,
Tão lindo como o Céu, cheio de tanta flor,
E tu chorando ao vê-lo e eu rezando mais...

Leva o nosso José - tu não te esqueças disto.
Com a roupinha nova, ao Senhor Santo Cristo,
E que reze por ele, e por ti e por mim...

Por ser tão pequenino, há-de ouvi-lo o Senhor,
Para que dê saúde e me abrande esta dor,
Que as saudades só a à vista terão fim...

Outros versos de grande sensibilidade são citados:

Porque te amo, não sei
Mar que pareces sem fim...
Tu és maior do que a Terra
E cabes dentro de mim.

Minha terra à beira mar,
Cais da saudade distantes...
Bem vejo, ao longo, a acenar,
Os lenços dos imigrantes!

É verdade que o Açoriano parte, mas o coração fica ... exclama Nascimento Cabral e continua ...

Minha Terra, vais ouvir
O que não disse a ninguém:
Quando eu um dia partir,
Comigo partes também

Ó minha terra - sacrário
Da saudades mais sentida,
Livro de Missa e rosário
Que hei-de rezar toda a vida

Encerra aquela noite com um "Ananás de Honra" uma gentileza da Direcção Regional do Comércio dos Açores.

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